domingo, 22 de novembro de 2015

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

ALGUMAS OBRAS EM EXPOSIÇÃO

Algumas das obras expostas em "EXPERIMENTAÇÕES: A materialidade do Madonnaro", mostra que fica no Centro Ferroviário de Cultura de Itacuruçá, na Costa Verde do Rio de Janeiro até o dia 04 de dezembro. A entrada é gratuita!


"TRINDADE" (2015). Giz sobre lona de algodão.


"CRUCIFICAÇÃO" (2015). Giz sobre lona de algodão.


"NOIVOS" (Homenagem a Mestre Vitaliano, 2015). Giz sobre lona de algodão.

EXPERIMENTAÇÕES: A materialidade do Madonnaro


segunda-feira, 31 de agosto de 2015

MADONNARO: Gênero, técnica e linguagem pictórica

MADONNARO: Gênero, técnica e linguagem pictórica

Marcelo Amaral Coelho1& Fabio de Macedo2
1. Discente do Curso de Licenciatura em Belas Artes, ICHS/UFRRJ; 2. Orientador de Monografia e Professor Associado do Curso de Licenciatura de Belas Artes, ICHS/UFRRJ

Palavras-chave: Efemeridade, Madonnaro, Pintura.

Introdução

O presente trabalho surgiu a partir do contato com o Madonnaro agregado à vivência acadêmica em Belas Artes. Esse contato se deu no ano de 2013, quando selecionados para o Programa Ciências sem Fronteiras (CAPES), tivemos a oportunidade de participar de um curso de Madonnaro, em Verona (Itália). Em 2014, por conta de um projeto PIBID/CAPES elaborado para ser desenvolvido com alunos do EJA/Fase IX, em Seropédica (RJ), houve a necessidade de aprofundar o conhecimento sobre o universo Madonnaro. Aprofundamento este que resultou no Madonnaro como tema para a Monografia de conclusão de curso. A proposta então era uma pesquisa direcionada para a possibilidade de aplicação da técnica da pintura sobre o solo como instrumento de ensino de arte. Porém, à medida que acessamos novos conhecimentos, a pesquisa foi ganhando um viés teórico e histórico no sentido de investigar o Madonnaro enquanto técnica, gênero ou linguagem. Para isso concorreu a constatação da inexistência de material referencial quanto ao tema no contexto brasileiro. Foi então que nos propomos a investigar a origem do culto mariano e sua iconografia. O que nos levou a pensar a natureza e o entendimento da imagem no contexto cristão. Feito isso, decidimos por fazer um levantamento da prática Madonnaro desde o início, no século XVI. Para argumentar sobre sua consolidação como arte atentamos para importantes elementos que gravitam em torno dessa prática artística. Uma vez reconhecida como arte, nos detivemos sobre os procedimentos técnicos que envolvem a concepção de um Madonnaro.

Metodologia

A escassez de referências sobre o tema aumentou a reunião de esforços para o desenvolvimento do trabalho. Recorremos às obras especializadas, em língua italiana, que nos demandou um árduo trabalho de tradução, proporcionado pela familiarização com o referido idioma. Esta tarefa contou com contribuições de nacionais daquele país, amarrados pelo afã de colaborar pura e simplesmente pela natureza cooperativa de amizades construídas no contexto em que disfrutamos do intercambio acima mencionado. O texto capital para o desenvolvimento da pesquisa foi o livro I Madonnari – annunciatori di anziane storie, de Felice Nalin, considerado marco fundador das pesquisas referentes ao tema. A partir de entrevistas com vecchi madonnari em ação, Nalin escreveu a história da prática pictórica. Para abordar o contexto paleocristão recorremos ao historiador italiano Ennio Francia, buscando abrigo para repassar o panorama histórico e estilístico do período. Outra referência em que buscamos apoio foi Umberto Utro em publicação de Fabrizio Bisconti. Nele encontramos as informações necessárias para um estudo iconográfico da Madonna. Quando resolvemos investigar a Iconoclastia, selecionamos Ernst Kitzinger, cujo estudo privilegia o contato com a obra como documento, cujas ideias não dispensa o contato com outras áreas do conhecimento, mas se detém na leitura do monumento. As informações sobre os festivais de Madonnaro foram colhidas a partir de textos reunidos na obra de Gabriela Annaloro et. al. Essa literatura especializada foi tratada dentro das ideias que circunscrevem a teoria e história da arte na atualidade, apoiada no pensamento de autores como: H.W. Janson, E. Gombrich, Jacqueline Lichtenstein, Ralph Mayer e outros. Bem como Edson Motta, cujas formulações sobre técnicas sobre procedimentos pictóricos foram de grande importância ao estudo em questão. A pesquisa, portanto é de caráter bibliográfico, sendo estudo como corte qualitativo.

Resultados e Discussão

A partir das análises perpetradas, sustentamos a relevância do Madonnaro, pois o mesmo se reafirma como “gênero”, “técnica” e “linguagem” pictórica, senão vejamos: O Madonnaro pode ser considerado um gênero de pintura em razão de sua marca característica, qual seja: o tema. É inegável que a referência mariana na catacumba de Priscilla tenha sido capital para a existência do Madonnaro – não à toa, a prática tem este nome. A prática propõe um conjunto de procedimentos que lhe proporcionam singularidade pictórica. Desde o início impregnado do esquematismo bizantino, passando pela influência do Renascimento até o contato com o ensino institucionalizado das academias, a pintura sobre o pavimento conservou alguns procedimentos e alterou outros.  O uso do desenho, a aplicação da cor, a noção de proporção, o trato de claro-escuro e demais recursos técnicos, foram incorporados à formação de seus artistas via instituições formais de arte. O Madonnaro enquanto linguagem, dotado de efemeridade e possuindo um conjunto de procedimentos, comunica uma ideologia. Antes especificamente religiosa; atualmente, contempla a multiplicidade de discursos. Tendo conhecimento de suas particularidades e recursos técnicos, é possível explorar as potencialidades da gramática visual madonnara. Assim como a fala, o Madonnaro é um fato social, externo ao indivíduo. Nasce e se perpetua nas relações dinâmicas e interativas com o outro. É arte pública edificada numa tradição histórica que ao mesmo tempo se assoma e dialoga com os paradigmas da arte contemporânea, devido ao seu caráter público e efêmero. Não se desfaz da norma culta da técnica, mas por conta das constantes atualizações, acaba por absorver elementos inovadores.

 

Conclusão


Concluímos que o Madonnaro é gênero; é técnica; é linguagem pictórica. Tal conclusão confere à prática uma variedade de potencialidades a serem exploradas. Desde sua constituição de natureza religiosa e artística, passando pelo aspecto turístico, cultural, bem como sua potencialidade pedagógica. Este último vetor destaca a importante função humanística e social do Madonnaro, já que a arte tem como compromisso fundamental a mudança e a transformação da sociedade, para o que a educação se constitui em ferramenta indispensável. Dessa maneira, o Madonnaro se constitui em ferramenta pedagógica a mais dentro do leque de possibilidades artísticas. Seus procedimentos compreendidos pelo manuseio técnico que vão desde os materiais mais alternativos, como giz, carvão e tijolo aos mais sofisticados pastéis, todos não nocivos à saúde de quem os manipula, se apresentam como apropriados a todas as faixas etárias. Com isso, o Madonnaro se demonstra como ferramenta compatível a todos os níveis da educação e dentro do contexto educacional, as possibilidades são amplas e inúmeras. A reflexão sobre a utilização do suporte aponta para a conscientização quanto ao uso e preservação do patrimônio cultural. Sua natureza religiosa, o aproxima da confecção dos tapetes de Corpus Christ, comuns em várias cidades brasileiras, possibilitando, dessa forma, discussões em torno da interculturalidade. Assim, acreditamos que este trabalho contribui para a difusão de uma atividade em vias de reconhecimento acadêmico em terras brasileiras.

Referências Bibliográficas


ANNALORO, Gabriella et al. Curtatone: I segni della Storia. Mantova (Itália): Editoriale Sometti, 2014.
BISCONTI, Fabrizio. Temi di Iconografia Paleocristiana. Città del Vaticano: Roma, 2000.
FRANCIA, Ennio. Storia dell'Arte Paleocristiana. Milano: Aldo Martello Editore, 1969.
JANSON, H. W. O Renascimento/Introdução; O Proto-Renascimento em Itália; O Renascimento Pleno na Itália; O Maneirismo e outras Tendências. In: ___________.  História da Arte. 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
KITZINGER, Ernst. Il culto delle immagini: l’arte bizantina dal cristianesimo delle origini all’iconoclastia. Lezioni 4. Trad. de Roberto Garroni. Scandicci (Itália): La Nuova Italia Editrice, 1992.
LICHTENSTEIN, Jacqueline. A Pintura – Vol. 2: A teologia da imagem e o estatuto da pintura. São Paulo: Editora 34, 2004.
MAYER, Ralph. Pastel. In: ___________.  Manual do Artista de Técnicas e Materiais. Trad. Christine Nazareth. 2ª Ed. S. Paulo: Martins Fontes, 1999.
MOTTA, Edson e SALGADO, Maria Luiza Guimarães. Pastel. In: ______ e _______. Iniciação à Pintura. Rio: Nova Fronteira, 1976.
NALIN, Felice. I Madonnari. Annunciatori di anziane storie. Verona (Itália): Edizioni MG, 1982.

(Resumo expandido apresentado à III Reunião Anual de Iniciação Científica (RAIC) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em 31 de agosto de 2015).

sábado, 29 de agosto de 2015

PLANO DE CURSO APRESENTADO AO FINAL DA GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA EM BELAS ARTES NA UFRRJ

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
DECANATO DE ENSINO DE GRADUAÇÃO
DEPARTAMENTO DE ASSUNTOS ACADÊMICOS E REGISTRO GERAL
DIVISÃO DE REGISTROS ACADÊMICOS
PROGRAMA ANALÍTICO

DISCIPLINA

MADONNARO
CRÉDITOS: 2.0

ORIGEM
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE ARTES

I. OBJETIVO
Capacitar o aluno para compreender o fenômeno artístico do Madonnaro em seu contexto histórico, tendo como base a análise crítica de textos relacionados com o tema.
Refletir sobre os conceitos fundamentais das Belas Artes e sua função social, a partir dos procedimentos e discurso contidos no Madonnaro.

II. EMENTA
Conceituar o Madonnaro e sua organização.
Estudar o Madonnaro como instrumentação representativa, caracterizando-o como gênero, técnica e/ou linguagem.

III. PROGRAMA
CONTEÚDO
1.      NO PRINCÍPIO...:
1.1. O que é um Madonnaro?
1.2. A matriz iconográfica.
1.3. A formação iconográfica do tema mariano.
2.      A IMAGEM NO PERÍODO ICONOCLASTA:
2.1. Antes da Controvérsia iconoclasta.
2.2. Os primeiros cultos à Maria.
2.3. O século VI e a preparação para a Iconoclastia.
3.   O MADONNARO – O ARTISTA E SUA PRÁTICA:
3.1. O início Madonero: comércio e religião.
3.2. O artista madonnaro: um divulgador da fé cristã.
3.3. A geração Pós-Guerra: uma nova estrada para o Madonnaro.
4.   A CONSOLIDAÇÃO DO MADONNARO:
      4.1. A cidade de Curtatone.    
      4.2. O Santuário da Beata Virgem Maria das Graças.
      4.3. A Feira de Curtatone.
      4.4. O Encontro Nacional dos Madonnari: uma galeria a céu aberto.
5.   A PRÁTICA MADONNARO:
      5.1. Veneza.
      5.2. O uso das referências.
      5.3. O suporte.
      5.4. A materialidade.
      5.5. Os procedimentos técnicos.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA
ANNALORO, Gabriella et al. Curtatone: I segni della Storia. Mantova (Itália): Editoriale Sometti, 2014.
FRANCIA, Ennio. Storia dell'Arte Paleocristiana. Milano: Aldo Martello Editore, 1969.
KITZINGER, Ernst. Il culto delle immagini prima dell’Iconoclastia. In: _________.  Il culto delle immagini: l’arte bizantina dal cristianesimo delle origini all’iconoclastia. Lezioni 4. Trad. de Roberto Garroni. Scandicci (Itália): La Nuova Italia Editrice, 1992.
NALIN, Felice. I Madonnari. Annunciatori di anziane storie. Verona (Itália): Edizioni MG, 1982.
UTRO, Umberto. Maria. In: BISCONTI, Fabrizio. Temi di Iconografia Paleocristiana. Città del Vaticano: Roma, 2000.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BETTETINI, Maria. Ombre di ombre. In: _________. Contro le immagini: le radici dell’iconoclastia. Bari (Itália): Gius. Laterza & Figli, 2006.
CENNINI, Cennino. Il libro dell’arte. Editado por Franco Brunello. 3ª Ed. Vicenza (Itália): Neri Pozza Editore, 1992.
GOMBRICH, Ernst H. Norma e Forma. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
JANSON, H. W.História da Arte. 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
LACOSTE, Jean. O problema da Estética. In: ___________. A filosofia da arte; trad. de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.
MAYER, Ralph. Pastel. In: ___________.  Manual do Artista de Técnicas e Materiais. Trad. Christine Nazareth. 2ª Ed. S. Paulo: Martins Fontes, 1999.
MOTTA, Edson e SALGADO, Maria Luiza Guimarães. Pastel. In: ______ e _______. Iniciação à Pintura. Rio: Nova Fronteira, 1976.
NAALIN, Felice. L'arte dei madonnari. Le tecniche. Del segno e del colore. Firenze (Itália), Giunti Demetra, 2000.
RODINÒ, Simonetta Prosperi Valenti. Forme, Funcioni, Tipologie. In: Il disegno. Forme, tecniche, significati. SCIOLLA, Gianni Carlo (org.). Cinisello Balsamo (MI): Silvana Editoriale, 1991.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

TESTEMUNHO HISTÓRICO

Testemunho histórico da pintura de estrada. Vídeo curto; apenas 29 segundos. Imagens da produção de arte sobre o pavimento na década de 1920, em Londres, na Inglaterra. Link: https://www.facebook.com/LadyScreever/videos/vb.1460524280925671/1475863116058454/?type=2&theater. 

domingo, 5 de julho de 2015

SOBRE BREVIDADES...

"Cabeça feminina" (2013). Marcelo Amaral. Verona (Itália)

A efemeridade é uma das principais características do Madonnaro, a arte sobre o pavimento. O fato de existir e em pouco tempo deixar de fazê-lo torna essa arte tão especial. Assim é a vida. A brevidade da vida a torna tão estimulante. O escritor bíblico Tiago chamou a atenção: "Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece" (Tiago 4.14).

quinta-feira, 2 de julho de 2015

OFICINA : ELEMENTOS DA ARTE INDÍGENA MARAJOARA ATRAVÉS DA PRÁTICA MADONNARO

Aluna experimentando a materialidade do pastel por meio de um estudo a partir de Vicente do rego Monteiro.


Este trabalho surge como parte integrante do PIBID Belas Artes da UFRRJ, em Seropédica (RJ). Considerando a viabilidade reflexiva e expressiva da Arte, o projeto foi elaborado sob uma tríade: a técnica Madonnaro (italiana), a plástica artística Marajoara e a estética do pintor brasileiro Vicente do Rego Monteiro. Possibilitando aos alunos conhecer os elementos da linguagem artística.

Nessa oficina objetivamos fazer interagir conhecimentos da cultura popular brasileira e aquela estrangeira, estimulando a reflexão a partir do cotidiano, contribuindo com a construção da identidade e a criatividade dos alunos. A interação entre obras e história, através do contato com outras realidades culturais, pode torná-los conscientes das diferentes expressões de arte e seu valor dentro das sociedades.

Inicialmente apresentaremos aos alunos o Madonnaro, técnica artística italiana de representação de temas religiosos sob pavimento, que servirá de base para a produção dos alunos. Trabalharemos a linearidade e a cromaticidade com a apresentação de referências do universo Marajoara, primeiro por meio da reelaboração e depois através da observação. Permitindo aos alunos experimentarem as possibilidades da linha, das relações cromáticas e da criação. Os alunos terão oportunidade de se familiarizar com a técnica do pastel seco, estudando obras de Vicente do Rego Monteiro, onde observarão como o artista recorreu aos elementos da arte Marajoara para (re)interpretar temas clássicos e cotidianos. Após a fase de estudos, se dará início a etapa de criação tendo como ponto de partida o cotidiano do aluno. O último encontro será para a produção das obras sobre pavimento com o pastel seco. A área será isolada durante sua execução e depois de finalizados para uma breve exposição.

Por fim é esperado que os alunos consigam correlacionar o imaginário criativo próprio com os estudos das referências; refletir a própria realidade (re)afirmando suas identidades num contexto de intercâmbio cultural. Podendo, dessa forma, se posicionarem como indivíduos autônomos e conscientes de sua condição social.

Palavra Chave: Arte Marajoara, Madonnaro, Vicente do Rego Monteiro, Cultura Popular e Pastel seco.

Marcelo Amaral Coelho (Licenciatura em Belas Artes – UFRRJ )
Patrícia Karla Mendes Vieira (Licenciatura em Belas Artes – UFRRJ )
Priscila Marcondes da Silva (Licenciatura em Belas Artes – UFRRJ )

* Texto publicado originariamente em: ENALIC. Caderno de Resumos. Disponível em: http://enalic2014.com.br/anais/resumos.pdf. Acesso em 02 de julho de 2015.

domingo, 15 de março de 2015

quarta-feira, 11 de março de 2015

O MADONNARO

"San Giovannino Battista" (2013). Madonnaro. M. Coelho. Verona (Itália)

Por toda a Itália observa-se artistas desenhando com giz pelo chão. Durante o ano são realizados eventos pelo país reunindo esses “artistas de estrada”. Essa técnica é conhecida como MADONNARO_ “Madonnari” quando no plural. Também os artistas que desenham com essa técnica são denominados “madonnari”. O Madonnaro ficou conhecido assim porque a maioria dos desenhos feitos no chão representavam a imagem da Madonna_ Virgem Maria. Ao longo do tempo, o Madonnaro expandiu-se por outros caminhos. Não se desenha somente a Madonna. Hoje existe o Madonnaro sobre tela e também o Madonnaro anamórfico (perspectiva, ilusão de ótica). Pelo mundo, e não somente na Itália, se pratica o Madonnaro. Vamos conhecer um pouco da história desta técnica?
Madonnaro, no contexto italiano, é o nome dado a todo aquele artista que representa por imagens a Virgem Maria, ou seja, a Madonna. Seja por meio de esculturas, pinturas, gravuras, etc. A história do Madonnaro nos leva às origens do Cristianismo. No momento em que ainda não existia a separação entre católicos e protestantes. Numa época em que são percebidas nas catacumbas de Roma as imagens de Maria com o Menino Jesus. A partir daquela imagem figurada na parede teve início a exploração artística do tema da Madonna. No início como divulgação da fé cristã e depois como objeto de adoração.
Enquanto técnica de pintura, o Madonnaro surgiu no século XVI, em Veneza (Itália). Alguns artistas começam a reproduzir no chão, utilizando-se de giz, cópias de Madonne pintadas por artistas famosos do Renascimento como, por exemplo, Rafael e Michelangelo. Daí o nome Madonnaro. Os artistas madonnari são chamados de “artistas de estrada” por não terem local fixo para executarem seus desenhos. Já naquele tempo iam pelos santuários a “(...) reproduzir as obras de Rafael ou de Michelangelo ou mais simplesmente o aumento de qualquer imagem reproduzida em ‘santinhos’.” (p. 18) Viviam das “ofertas” dadas por aqueles que passavam para lá e para cá.
O Madonnaro é uma obra pública e de tema livre. Por tradição é feito sempre ao ar livre. Isso o torna efêmero, ou seja, não possui durabilidade. Existe apenas no momento de sua criação. Logo é “(...) anulado pela primeira chuva ou pelos passos dos apressados pedestres.” (p. 40) Por outro lado, o fato de não ser uma arte durável, permite que o Madonnaro seja executado nos mais diversos lugares sem sujar ou danificar o local. O Madonnaro é uma arte que dialoga perfeitamente com o espaço físico (escola, casa, prédios, calçadas, etc.).
Como fazer um Madonnaro? O procedimento é bem simples: 1) Estudo da referência (Escolha do desenho; cópia num papel; observação da estrutura linear e das cores...); 2) Escolha do pavimento (observar se tem muito buraco ou irregularidades; eliminar gomas de chicletes; evitar áreas com marcas de graxas ou outro resíduo químico...); 3) Demarcação da área (quadrado/retângulo); 4) Quadrícula (dividir espaços com “cruzes” até formar uma malha que ajudará no transporte do desenho do papel para o chão); 5) Esboço do desenho com giz claro e linhas bem suaves; 6) Definição do desenho com linhas mais intensas; 7) Início da aplicação das cores. Vale lembrar que os primeiros Madonnari eram feitos com carvão, cacos de tijolo e giz.
O Madonnaro é uma técnica de arte bem barata. Também é uma atividade bastante lúdica (Quem nunca quis, mesmo quando criança, de desenhar com giz?). Mais que tudo isso, o Madonnaro é uma prática artística onde se podem explorar vários temas. Por meio do Madonnaro é possível “falar” o que se pensa ou sente. A cor, a linha e a forma são como as palavras que pronunciamos. Podemos ainda aprender sobre arte, sobre história, sobre matemática... sobre a vida.

BIBLIOGRAFIA:

NAALIN, Felice. L'arte dei madonnari. Le tecniche. Del segno e del colore. Giunti Demetra, 2000.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Percebendo o triângulo como elemento de expressão artística na obra de Décio Vieira através da prática Madonnaro

Turma 801

Turma 901

A aula-oficina foi realizada com alunos do 8º e 9º anos do Colégio Wanderley Menezes, em Itaguaí (RJ), no dia 19 de novembro de 2014. Atuo nesta escola como professor de Arte. Nesta ocasião fui chamado a substituir a professora de matemática em razão de um imprevisto. Embora os alunos tenham demonstrado resistência no início – esperavam não ter aula naquele dia – ao final estavam bastante satisfeitos com a atividade. A atividade se deu dentro do horário das aulas.

Com os alunos da turma 801 – 8º ano – fiz uma breve apresentação da proposta da aula-oficina. Distribui um texto para ser lido em casa enriquecido com mais informações. Explanei sobre o conteúdo dos triângulos e relacionei com a arte de Décio Vieira e o Concretismo. Os alunos, então, realizaram os estudos preparatórios para a execução do Madonnaro. Em seguida, fomos para o pátio a executar a obra sobre o chão. Com o auxílio de uma vassoura como régua dividi os espaços sendo um retângulo de cerca de 70 x 60 cm para cada aluno. Organizei os espaços em duas fileiras de forma que os alunos ficaram de frente um para o outro. Os triângulos foram traçados à mão livre com giz branco. Apenas um aluno utilizou a régua. Finalizada a composição linear os alunos fizeram uso do giz colorido (verde, azul, amarelo, branco e laranja) para acrescentar cor à pintura. Durante a execução dos madonnari fui aos alunos perguntando sobre a identificação de alguns triângulos. Terminada a pintura nos dirigimos para a sala de aula. Deixei aberto para comentários. Um aluno disse: “Não deixamos de estudar geometria.” Outro exclamou: “Faltou um terreno mais plano.”

Com o 9º ano – turma 901 – a rejeição foi mais efetiva. A aula foi pouco empolgante. Talvez pelo fato da aula-oficina acontecer nos dois últimos tempos, quando imaginavam poder ir para casa, tenha contribuído para tal rejeição inicial. Demonstraram pouco interesse em participar da aula-oficina. Principalmente durante a parte teórica. Aqui também distribui o texto. Comentei sobre o motivo de estar ali e ainda sobre o conteúdo da aula-oficina. Contextualizei conteúdo dos triângulos fazendo uma ligação com o artista Décio Vieira e o Concretismo. Resolvi fazer diferente do método adotado com a 801 e sugeri um trabalho em conjunto. A turma era pequena. Naquela aula estavam presentes apenas seis alunos_ no total a turma possui oito alunos. Então, eles se reuniram e realizaram um estudo preparatório. O interessante foi que ‘construíram’ a obra a partir do acréscimo formal (figuras triangulares). Não havendo, inicialmente, uma demarcação geral (configuração). Na sequência fomos para o pátio da escola. Ali, novamente fazendo uso da vassoura, tracei um único retângulo de mais ou menos 1,20 x 70 cm. Um aluno realizou a composição linear e os outros executaram a etapa pictórica. Cabe destacar que acrescentaram mais triângulos quando da etapa linear alterando o estudo/referência. Durante a execução questionei sobre a classificação dos triângulos presentes na obra. Uns optaram por não responder; uma aluna errou a resposta; e apenas um aluno classificou corretamente o triângulo escolhido. Finalizado o Madonnaro voltamos para a sala. Deixei aberto para comentários. Ninguém quis falar. Novamente comentei e associei a criação do Grupo Frente ao Salão Preto e Branco, estudado como conteúdo do 4º bimestre em Arte, sendo ambos organizados no ano de 1954.

Espera-se que os participantes tenham percebido a possibilidade de explorar os aspectos formais do triângulo como elemento de expressão artística. Não somente isso, mas também que atentem ao conteúdo histórico presente na proposta da aula-oficina. Podendo, dessa maneira, apreender conhecimento cultural por meio da obra do pintor Décio Vieira e sua relação com o Concretismo. Acredita-se que isso possa contribuir para a reafirmação de identidade. Assim também, espera-se que o contato com outra realidade cultural como aquela do Madonnaro possa ter proporcionado experiências de trocas culturais. A opção interdisciplinar que caracterizou a aula-oficina se firmou na definição de educação para o futuro proposta por Morin, baseada no paradoxo entre as especializações e o conhecimento multidisciplinar, transversal, etc.[1] A especialização só faz sentido quando é parte de um todo. Do contrário, institui a cruel solidão. Com tudo isso, se quis propor ao participante a conscientização de sua autonomia.[2] Oferecendo-lhe condições que pudessem contribuir no embate contra o Imprinting cultural, termo cunhado por Konrad Lorenz, que é uma espécie de “(...) marca matricial que inscreve o conformismo a fundo, e a normalização que elimina o que poderia contestá-lo. (…) desde o nascimento, primeiro com o selo da cultura familiar, da escolar em seguida, depois prossegue na universidade ou na vida profissional.[3] Somente então a inevitável globalização não terá aquele aspecto reducionista sobre o indivíduo.



[1]MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad. Catarina Eleonora F. Da Silva e Jeanne Sawaya; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. 2ª Ed. S. Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2000, p. 36.
[2] - Este um conceito muito explorado por Paulo Freire para combater todas as práticas de desumanização em FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia_ Saberes necessários à prática educativa.  São Paulo: Paz e Terra, 1996. Coleção Leitura. 25ª Ed. 
[3] - MORIN, 2000, p. 28