Pintor florentino do século XV. Talvez o desenho mais antigo conhecido, onde poderá ter sido utilizado o véu (quadrícula). Windsor, Royal Library.
Quadrícula: método de transporte de imagens por ‘quadradinhos’
Marcelo Amaral Coelho
O propósito deste texto é
apresentar um recurso artístico que possa auxiliar na ampliação/redução de
desenhos. Recurso este denominado “Quadrícula”. Algo que facilite a experiência
de deslizar o lápis sobre o papel para dar forma ao desenho. O dicionário
online Michaelis/uol define este recurso linear como 'quadradinhos'. Nesta
perspectiva, basta traçar linhas horizontais e verticais, segundo medidas
pré-estabelecidas, para que se forme a malha quadriculada destinada a auxiliar
na reprodução do desenho (COELHO, 2014).
A
quadrícula ou malha quadriculada pode facilitar a produção de desenhos e
desenvolver a capacidade de organização espacial, percepção e concentração. O
recurso permite uma proximidade com operações matemáticas. Tanto no traçado das
linhas horizontais como naquelas verticais o cálculo é uma operação funcional.
Por meio da quadrícula é possível reduzir ou ampliar qualquer desenho.
Potencialidades que podem contribuir, em especial, à execução de um Madonnaro pelo iniciante. O
recurso do quadriculado para auxiliar o artista é uma prática muito antiga.
Tal recurso é
muito antigo. Tofani (1991, p. 249 – Trad. nossa) vai dizer: “o método para a
ampliação era aquele velhíssimo, já em uso no antigo Egito, da quadrettatura: uma rede regular de linhas
verticais e horizontais que vinham traçadas sobre o desenho preparatório, servindo
a localizar vários pontos de referência sobre os quais, dilatando a dita rede,
se podia reproduzir a imagem em tamanho maior”. Mais a frente (p. 20), o mesmo
autor vai dizer nos anos 1700 era muito comum o uso da quadrettatura ou quadrícula.
Comentando o
processo de pintura mural do antigo Egito, MORA e PHILIPPOT (2001, p. 91) reforçam
uso da quadrícula em tempos antigos. Dizem eles que aqueles homens já recorriam
à “(...) quadrícula que determinava as proporções das figuras e dos hieróglifos.”
Porém, nem todos
os artistas fazem uso da quadrícula. Para alguns
estudiosos a quadrícula é útil só para reportar imagens pequenas em grandes
dimensões. Existem artistas que não a usam porque trabalham interpretando o
modelo inicial e, portanto, não necessitam de uma restituição ‘fidelíssima’ da
imagem a ser representada.
A execução dos
trabalhos, segundo o recurso da quadrícula, pode se dar pelas seguintes etapas:
1) medir a área total do desenho; 2) O próximo passo é multiplicar essa medida
pelo tamanho a ser ampliado ou dividir caso a operação seja a redução; 3) Em
seguida, traçar as linhas internas obedecendo ao mesmo processo de
multiplicação/divisão utilizado anteriormente. Obtendo assim, a malha
quadriculada necessária tanto para ampliação quanto para a redução. O lápis
deve ser usado de maneira bem suave para que não fiquem ‘marcas’; 4) Nesta
etapa é recomendável observar o desenho-referência, este já sob a quadrícula, e
iniciar o processo de transposição da imagem. Devendo estar atento à combinação
entre letras e números, dispostos externamente ao desenho-referência, que
servirão como orientação. Dessa maneira, atentando à forma contida no quadrante A1, depois naquele A2 e assim
sucessivamente será possível realizar a ampliação utilizando o recurso; 5)
Feito a transposição total do desenho será necessário apagar aquelas linhas que
não fazem parte da obra. Se necessário, é possível ‘reavivar’ o desenho com
linhas mais definidas.
REFERÊNCIAS:
BOTTICELLI, Guido. Breve storia della pittura
murale. In: __________. Metodologia di restauro delle pitture murali. Sandra e Silvia Botticelli (orgs). Centro Di. Pp. 11-22.
COELHO, Marcelo A. Oficina Identificando traços de brasilidade
na obra de Vicente do Rego Monteiro: ampliando possibilidades para a prática
Madonnaro. Projeto Quem somos nós: a identidade do povo brasileiro e sua
brasileiridade. Escola Municipal Gilson Silva,
Seropédica (RJ). 2014.
MAIA, Pedro. O caráter demonstrativo das experiências de Brunelleschi e o seu impacto na concepção e utilização de dispositivos de captura entre os séculos XV e XVII. 2011. Disponível em: http://www.i2ads.org/blog/article/o-caracter-demonstrativo-das-experiencias-de-brunelleschi-e-o-seu-impacto-na-concepcao-e-utilizacao-de-dispositivos-de-captura-entre-os-seculos-xv-e-xvii-5/. Acesso em: 30 de março de 2017.
MICHAELIS – Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Disponível
em: <http://michaelis.uol.com.br/>.
Acesso em: 12 de março de 2017.
MORA,
Paolo e Laura e PHILIPPOT, Paul. Le grandi tappe storiche della tecnica. In:
________________. La conservazione delle pitture murali. Trad.:
Bresciani S.r.l. 2ª ed. Bologna: Editrice Compositori , 2001. pp. 85-167.
TOFANI, Annamaria Petrioli. Pentimenti, metodi
di trasferimento, manomissioni. In: Il
disegno. Forme, tecniche, significati. Gianni Carlo Sciolla (org.).
Cinisello Balsamo (MI): Silvana Editoriale, 1991. pp.