quinta-feira, 30 de março de 2017

QUADRÍCULA: método de transporte de imagens por 'quadradinhos'

Pintor florentino do século XV. Talvez o desenho mais antigo conhecido, onde poderá ter sido utilizado o véu (quadrícula). Windsor, Royal Library.

Quadrícula: método de transporte de imagens por ‘quadradinhos’
Marcelo Amaral Coelho

O propósito deste texto é apresentar um recurso artístico que possa auxiliar na ampliação/redução de desenhos. Recurso este denominado “Quadrícula”. Algo que facilite a experiência de deslizar o lápis sobre o papel para dar forma ao desenho. O dicionário online Michaelis/uol define este recurso linear como 'quadradinhos'. Nesta perspectiva, basta traçar linhas horizontais e verticais, segundo medidas pré-estabelecidas, para que se forme a malha quadriculada destinada a auxiliar na reprodução do desenho (COELHO, 2014).
A quadrícula ou malha quadriculada pode facilitar a produção de desenhos e desenvolver a capacidade de organização espacial, percepção e concentração. O recurso permite uma proximidade com operações matemáticas. Tanto no traçado das linhas horizontais como naquelas verticais o cálculo é uma operação funcional. Por meio da quadrícula é possível reduzir ou ampliar qualquer desenho. Potencialidades que podem contribuir, em especial, à execução de um Madonnaro pelo iniciante. O recurso do quadriculado para auxiliar o artista é uma prática muito antiga.
Tal recurso é muito antigo. Tofani (1991, p. 249 – Trad. nossa) vai dizer: “o método para a ampliação era aquele velhíssimo, já em uso no antigo Egito, da quadrettatura: uma rede regular de linhas verticais e horizontais que vinham traçadas sobre o desenho preparatório, servindo a localizar vários pontos de referência sobre os quais, dilatando a dita rede, se podia reproduzir a imagem em tamanho maior”. Mais a frente (p. 20), o mesmo autor vai dizer nos anos 1700 era muito comum o uso da quadrettatura ou quadrícula.
Comentando o processo de pintura mural do antigo Egito, MORA e PHILIPPOT (2001, p. 91) reforçam uso da quadrícula em tempos antigos. Dizem eles que aqueles homens já recorriam à “(...) quadrícula que determinava as proporções das figuras e dos hieróglifos.
Porém, nem todos os artistas fazem uso da quadrícula. Para alguns estudiosos a quadrícula é útil só para reportar imagens pequenas em grandes dimensões. Existem artistas que não a usam porque trabalham interpretando o modelo inicial e, portanto, não necessitam de uma restituição ‘fidelíssima’ da imagem a ser representada.
A execução dos trabalhos, segundo o recurso da quadrícula, pode se dar pelas seguintes etapas: 1) medir a área total do desenho; 2) O próximo passo é multiplicar essa medida pelo tamanho a ser ampliado ou dividir caso a operação seja a redução; 3) Em seguida, traçar as linhas internas obedecendo ao mesmo processo de multiplicação/divisão utilizado anteriormente. Obtendo assim, a malha quadriculada necessária tanto para ampliação quanto para a redução. O lápis deve ser usado de maneira bem suave para que não fiquem ‘marcas’; 4) Nesta etapa é recomendável observar o desenho-referência, este já sob a quadrícula, e iniciar o processo de transposição da imagem. Devendo estar atento à combinação entre letras e números, dispostos externamente ao desenho-referência, que servirão como orientação. Dessa maneira, atentando à forma contida  no quadrante A1, depois naquele A2 e assim sucessivamente será possível realizar a ampliação utilizando o recurso; 5) Feito a transposição total do desenho será necessário apagar aquelas linhas que não fazem parte da obra. Se necessário, é possível ‘reavivar’ o desenho com linhas mais definidas.

REFERÊNCIAS:
BOTTICELLI, Guido. Breve storia della pittura murale. In: __________. Metodologia di restauro delle pitture murali. Sandra e Silvia Botticelli (orgs). Centro Di. Pp. 11-22.
COELHO, Marcelo A. Oficina Identificando traços de brasilidade na obra de Vicente do Rego Monteiro: ampliando possibilidades para a prática Madonnaro. Projeto Quem somos nós: a identidade do povo brasileiro e sua brasileiridade. Escola Municipal Gilson Silva, Seropédica (RJ). 2014.
MAIA, Pedro. O caráter demonstrativo das experiências de Brunelleschi e o seu impacto na concepção e utilização de dispositivos de captura entre os séculos XV e XVII. 2011. Disponível em: http://www.i2ads.org/blog/article/o-caracter-demonstrativo-das-experiencias-de-brunelleschi-e-o-seu-impacto-na-concepcao-e-utilizacao-de-dispositivos-de-captura-entre-os-seculos-xv-e-xvii-5/. Acesso em: 30 de março de 2017.
MICHAELIS – Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/>. Acesso em: 12 de março de 2017.
MORA, Paolo e Laura e PHILIPPOT, Paul. Le grandi tappe storiche della tecnica. In: ________________. La conservazione delle pitture murali. Trad.: Bresciani S.r.l. 2ª ed. Bologna: Editrice Compositori , 2001. pp. 85-167.
TOFANI, Annamaria Petrioli. Pentimenti, metodi di trasferimento, manomissioni. In: Il disegno. Forme, tecniche, significati. Gianni Carlo Sciolla (org.). Cinisello Balsamo (MI): Silvana Editoriale, 1991. pp.