INTRODUÇÃO
Para
o quarto bimestre do ano de 2016, com a turma 901, do CIEP Brizolão 294 Candido
Jorge Capixaba, em Mangaratiba (RJ), foi elaborado um projeto que contemplasse
alguns conteúdos previstos no plano de curso municipal. Dessa maneira, o
referido projeto foi estruturado de forma a explorar os conteúdos da Op Art, da
Fotografia e da Arte Pública.
O
objetivo principal previa refletir sobre a valorização do espaço físico da
escola como suporte de práticas artísticas. Como estratégia para atingir tal
objetivo se buscou compreender o conceito de arte pública; identificar os
elementos estéticos da Op Art; pensar a fotografia como um meio de registro que
possa ter motivações estéticas.
A
partir desses objetivos era esperado que os alunos entendessem o espaço físico
da escola como um espaço para a arte. Assim, a partir deste novo olhar, pensar
a conservação deste espaço como uma atitude responsável mediante a
coletividade. A escola é um direito individual enquanto um bem coletivo. É
necessário intervir para a preservação e conservação deste espaço social.
Acreditando, assim, que a mudança de pensamento quanto ao espaço físico da
escola contribua para a noção de pertencimento e, consequentemente, a
construção da identidade e autonomia do indivíduo. Isso sem deixar de aprender e
apreender sobre o conhecimento técnico da arte.
METODOLOGIA
O projeto
se desenvolveu em seis encontros que totalizaram 12 aulas. O conteúdo foi
dividido em: Op Art, Arte Pública, Criação, Violência patrimonial, Fotografia e
Avaliação bimestral. Todas as aulas se deram em sala de aula. Somente aquela
que compreendeu a avaliação bimestral aconteceu na área externa, em
consideração à prática do Madonnaro.
O
primeiro encontro apresentou a Op Art como uma
estética artística onde o “(...) ilusionismo característico dos trabalhos (...)
transmitem ao espectador uma impressão de movimento e instabilidade” (FILHO,
2015). Trata-se de uma forma de arte que parece brincar com o olhar. As
linhas e formas dão a sensação de estar em movimento. Tudo tem início com o
artista húngaro Victor Vasarely que, por volta de 1930, explorou os padrões
contidos em jogos de xadrez, zebras, dominós, etc. Vasarely explorou o preto e
branco em suas composições. O auge da Op Art se deu entre 1965 e 1968. The responsive eye (O olhar
compreensivo), exposição realizada no MoMA de Nova Iorque, foi a exposição
inaugural da Op Art.
Como
uma tendência da arte contemporânea se faz difícil determinar um conceito para
a arte pública. Assim como o grafitti,
as instalações e tantas outras a arte pública se utiliza do espaço. A cidade é
o suporte. Mas também os prédios e outros espaços internos com acesso liberado
ao público comportam esse conceito.
Fala-se de
uma arte em espaços públicos, ainda que o termo possa designar também
interferências artísticas em espaços privados, como hospitais e aeroportos. A
idéia geral é de que se trata de arte fisicamente acessível, que modifica a
paisagem circundante, de modo permanente ou temporário (ITAÚ CULTURAL).
É a partir de 1970 que o termo “arte pública” passa a fazer
parte do vocabulário artístico. Essa
vertente da arte atua para a recuperação de espaços degradados e na estimulação
do debate público. A intervenção no espaço físico de acesso público pode
fazer com que o próprio espectador/fruidor seja parte integrante da obra.
Num dos encontros,
a partir do que foi apresentado como estética da Op Art, os alunos foram
estimulados a criarem um estudo do que seria feito como produção prática ao
final do projeto. Para isso foram distribuídas folhas A4. Completaram a lista
de materiais o lápis e a borracha. Os estudos deveriam ser pensados em preto e
branco já que para a atividade prática seriam disponibilizados giz branco e
carvão.
Dentro
ainda do conceito de arte pública e considerando o contexto da escola foi
apresentado o conceito de violência patrimonial. O fato da exploração do espaço
físico da escola permitiu uma breve reflexão sobre como os alunos usufruíam esse
espaço. Nesse momento contribuiu o pensamento freiriano quanto a uma
pedagogicidade do espaço. Diz Freire (1996, p. 50):
É
incrível que não imaginemos (aqui Freire se refere a todos: poder público,
equipe de educadores, responsáveis e educandos) a significação do 'discurso'
formador que faz uma escola respeitada em seu espaço. A eloquência do discurso
'pronunciado' na e pela limpeza do chão, na boniteza das salas, na higiene dos
sanitários, nas flores que adornam. Há
uma pedagogicidade indiscutível na materialidade do espaço.
A
reflexão foi ampliada para os tipos de violência que ocorrem na escola. Feita
essa reflexão os alunos receberam uma folha A4 onde já constava o desenho da
silhueta de um rosto. Naquela folha o objetivo era desenhar o retrato da violência.
Aproveitando
a questão do conceito de ‘retrato’, se iniciou o encontro seguinte apresentando
a história da fotografia. Desde a câmara escura ao surgimento do Iphone. A
ideia foi trazer ao conhecimento dos alunos um panorama da evolução da
fotografia ao longo dos tempos. Assim como refletir sobre os processos
fotográficos enquanto registro ou como linguagem artística. Paralelamente se
pensou a questão da imagem e suas manipulações. Estava programada um tour
fotográfico pela escola, mas em virtude do comportamento inadequado com a turma
tal ação não se realizou.
Como
avaliação bimestral os alunos foram levados ao pátio da escola para a prática
externa do Madonnaro. Ali, antes do
início da atividade, receberam as orientações quanto ao procedimento técnico, a
metodologia de avaliação e algumas considerações sobre o Madonnaro. Em virtude da quantidade limitada de material e o pouco
tempo, os alunos foram divididos em trios. Nos grupos, tendo em mãos os estudos
realizados anteriormente, deveriam escolher dentre os três qual realizar. Tanto
o giz quanto o carvão foram disponibilizados segundo a necessidade dos grupos. Foi
então que os trios se espalharam por uma área onde havia sombra e deram início
ao processo de produção do Madonnaro.
Para essa atividade contou como avaliação a aderência dos trabalhos ao estudo,
a participação e o trato com os materiais/espaço físico.
RESULTADOS
O trato com o espaço – considerando os
conceitos e contextos da Arte pública, da violência patrimonial e do Madonnaro –
possibilitou propor aos alunos uma nova visão sobre o patrimônio da escola. Um
breve giro visual a contemplar as paredes da sala de aula permitiu (re)pensar a
relação com o ambiente. A produção do Madonnaro
no pátio apontou o chão da escola como um espaço para a arte. Assim, a partir
deste novo olhar, foi proposto a conservação do espaço escolar como uma atitude
responsável de caráter individual para com a coletividade. A escola é,
portanto, um direito individual enquanto um bem coletivo. É necessário intervir
para a preservação e conservação deste espaço sócio-cultural.
A
mudança de pensamento quanto ao espaço físico da escola pode contribuir para a
noção de pertencimento e, consequentemente, a construção da identidade e
autonomia do indivíduo. Isso sem deixar de aprender e apreender sobre o
conhecimento técnico da arte. Já que para a produção do Madonnaro os alunos puderam experimentar alguns processos técnicos
como: teoria das cores, formas, perspectiva, materialidade, proporção, etc.
Já a fotografia participou na tentativa de formação para um pensamento de preservação patrimonial enquanto instrumento de documentação e ainda como meio de 'fixação' do Madonnaro. Afinal, bastava uma chuva ou que os outros transitassem por cima das pinturas para que deixassem de existir. Os alunos foram incentivados a registrarem seus trabalhos.
CONCLUSÃO
Os trabalhos produzidos pelos alunos
proporcionaram uma nova visão para com o pátio da escola. Aquele espaço fora
contemplado como espaço de arte. O chão serviu como tela. O próprio grupo se
surpreendera com a possibilidade de pintar no chão. Enquanto os alunos
produziam suas obras outros tantos circulavam em torno. A oportunidade da
contemplação abriu espaço para o diálogo. Observou-se que a atividade provocou
interação entre os alunos. Quantos aos procedimentos técnicos houve uma
superação de recursos. Alguns alunos utilizaram o barbante disponibilizado não
sobre o chão como régua, mas suspenso sendo a sombra deste o fio condutor das
linhas. Enfim, o projeto foi concluído tendo como resultado o chão como uma
galeria de arte. Ficando o estímulo à valorização do espaço físico da escola.
REFERÊNCIAS
ASSIS, Simone Gonçalves
de e MARRIEL, Nelson de Souza Motta. Reflexões sobre violência e suas manifestações
na escola. In: ASSIS, Simone Gonçalves de, CONSTANTINO Patrícia e AVANCI,
Joviana Quintes (org.). Impactos da
violência na escola: um diálogo com professores. Rio: Ministério da
Educação/Editora FIOCRUZ, 2010. pp. 41-63.
BOL. 11 fotos
que contam a história do iPhone, do 2G ao 6S. 09 de setembro de 2015.
Disponível em: <http://noticias.bol.uol.com.br/bol-listas/11-fotos-que-contam-a-historia-do-iphone.htm>. Acesso em: 17 de
agosto de 2016.
CALDAS AULETE MINIDICIONÁRIO CONTEMPORÂNEO DA LÍNGUA
PORTUGUESA. Paulo Geiger (org.). 3ª ed. Rio: Lexikon, 2011.
COELHO,
Marcelo A. Madonnaro:
gênero, técnica e linguagem pictórica. 2015. 167 f. Monografia (Graduação em
Licenciatura em Belas Artes) – Instituto de Ciências Humanas e Sociais,
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica (RJ).
ENCICLOPEDIA ITAU CULTURAL. Arte Pública. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo356/arte-publica>.
Acesso em: 24 de outubro de 2016.
ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL. Op Art. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3645/op-art>. Acesso em: 12 de
outubro de 2016.
FILHO, Antonio Gonçalves. Mostra faz tributo aos 50 anos da op art. 16 de abril de 2015.
Disponível em: <http://cultura.estadao.com.br/noticias/artes,mostra-faz-tributo-aos-50-anos-da-op-art,1670549>. Acesso em: 12 de
outubro de 2016.
FREIRE, Paulo. Pedagogia
da Autonomia
– Saberes necessários à prática educativa.
Coleção Leitura. 25ª ed. São Paulo (SP): Paz e Terra, 1996.
G1. Relembre
a história do iPhone, o smartphone da Apple. 12 de setembro de 2012.
Disponível em: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2012/09/relembre-historia-do-iphone-o-smartphone-da-apple.html>. Acesso em: 17 de
agosto de 2016.
WINKEL, Sophia. A
história da fotografia. Disponível em: <http://novaescola.org.br/ensino-medio/historia-fotografia.shtml>. Acesso em: 17 de
agosto de 2016.