quinta-feira, 21 de novembro de 2019

EDUCAÇÃO AO PATRIMÔNIO EM VEZ QUE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

Durante a pesquisa para a dissertação de mestrado intitulada O lugar da Educação Patrimonial na escola: o Madonnaro como ferramenta de Educação ao Patrimônio (COELHO, 2019) se optou por adotar o termo ― Educação Patrimonial dado sua posição no discurso oficial no que tange aos processos educativos na área do patrimônio. Com o decorrer da pesquisa, porém, a expressão que melhor se apresentou como definição de educação voltada ao patrimônio cultural para utilização futura foi aquela de origem italiana: Educazione al patrimonio, ou, Educação ao Patrimônio. Trata-se de uma abordagem de educação que entende a apropriação do patrimônio cultural em primeira pessoa, em conformidade com o pensamento de De Troyer (2005). Ainda, no caso de uma recorrência à morfossintaxe da língua portuguesa, a preposição combinada com um artigo, no caso, 'ao', segundo Bechara, remete à ideia de meio, instrumento. Então, a preposição em questão aponta a educação como meio de acessar ao patrimônio cultural que retorna como objeto de exploração pedagógica. Contribuindo, assim, a um processo cíclico - e, portanto, contínuo, bem ao gosto freiriano (FREIRE, 1996). Foi então que a pesquisa encaminhou a opção pelo termo 'Educação ao Patrimônio' por esse se apresentar em consonância com a essência de uma abordagem pedagógica de mão dupla que tenha origem no patrimônio cultural que, ao mesmo tempo, facilita a sua apropriação por parte do ser humano enquanto destino final.

Referências:
COELHO, Marcelo Amaral. O lugar da Educação Patrimonial na escola: o Madonnaro como ferramenta de Educação ao Patrimônio. Dissertação (Mestrado Interdisciplinar). Rio de Janeiro: Instituto Multidisciplinar, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Nova Iguaçu, 2019. 165p.

DE TROYER, Veerle (org). Patrimonio Culturale in Classe: manuale pratico per gli insegnanti. Trad. Gian Paolo Castelli. Antwerpen (Bélgica); Apeldoom (Holanda): Garant, 2005. Disponível em: <http://schoolweb1.gemeenschapsonderwijs.be:8101/Files/HereducItaliaans.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2017.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários à prática educativa. Coleção Leitura. 25ª Ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

terça-feira, 4 de junho de 2019

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL: o Madonnaro Storico alimentando a criatividade



No dia 17 de maio de 2019, como parte da Semana da Alimentação Saudável, foi realizada uma atividade de Madonnaro com os alunos das turmas 400/401 do CIEP Brizolão 294 Candido Jorge Capixaba, na Praia do Saco, em Mangaratiba. Naquele dia a chuva impediu que muitos alunos chegassem à escola. O número de alunos presentes foi reduzidíssimo. Tanto que ambas as turmas somaram apenas cinco alunos. Mas isso não impediu a realização da atividade prevista.

A julgar pelos materiais, o Madonnaro Storico é aquele mais adequado ao espaço escolar. O carvão, o tijolo e o giz – que pode ser substituído pelo gesso de rebaixamento de teto – são materiais com baixo custo. Foi com eles que se realizou a atividade com os alunos do 4º ano. Naquela tarde chuvosa os alunos foram direcionados para a parte externa da sala de aula. O grupo ocupou a área ao lado da rampa de entrada para o prédio do CIEP. A atividade teve início com o professor demarcando a área a ser ocupada pelo desenho. Em seguido, o mesmo tratou de estender o desenho pelo chão. Logo as linhas deram origem a uma natureza morta composta de três frutas. Aos alunos foi delegada a função de “pintar” a obra. O objetivo era trabalhar o tema voltado à alimentação saudável e proporcionar aos alunos a oportunidade de experimentar materiais inusitados para fazer arte. O piso coberto por pequenos blocos de cimento proporcionou um aspecto de mosaico ao trabalho final.

domingo, 19 de maio de 2019

MARIA DE LOURDES PARREIRAS HORTA: Educação Patrimonial no Arquivo Nacional

O link abaixo remete à página do Arquivo Nacional, no Facebook, onde é possível assistir a gravação da palestra de Maria de Lourdes Parreiras Horta sobre a "Lição das coisas - uma interação produtiva entre a educação e o patrimônio", dentro da 17ª Semana de Museus. Como parte do evento nacional e integrante da programação interna (Arquivo em prosa), o Arquivo Nacional, no centro do Rio, resolveu falar sobre Educação Patrimonial. Segue o link: https://www.facebook.com/arquivonacionalbrasil/videos/1004574706399880/?eid=ARB_uBcPnZkJxfffVAOZmKnD0aDRA_APt4W0njfLedmwkNDp7YTqifzqThtzJ_NNDr2msPSxtzRvkWT

sábado, 11 de maio de 2019

O MADONNARO COMO SUPORTE PEDAGÓGICO PARA ALÉM DA ARTE


Este resumo (1) por objetivo apresentar o Madonnaro como instrumento pedagógico e sua exploração em sala de aula como recurso para pensar questões além da arte. Essa exploração teria origem na percepção de repensar a prática de sala de aula a partir da vivência como professor de artes visuais. O que é o Madonnaro? Transcorria o século XVI quando mendicantes resolvem, reproduzir imagens da Madonna pelo chão durante as festividades em honra da Mãe de Jesus. Daí o nome ‘Madonnaro’ para a prática e ‘madonnaro’ para classificar aqueles reproduziam tais imagens. Aproveitando o contexto religioso, mercantil e cosmopolita de Veneza aqueles mendicantes conseguiam uns trocados para sua sobrevivência. Para a execução daquelas imagens efêmeras, os mendicantes lançavam mão de cacos de tijolos, carvão, gesso e alguma terra colorida. Materiais estes que podiam ser encontrados pelo caminho. Surgia assim, a prática do Madonnaro (NALIN, 1982; NAALIN, 2000; COELHO, 2015). A metodologia a ser explorada no trabalho foi aquela da leitura de referências teóricas e fontes documentais, além da observação participante (VELHO, 1978). Algumas experiências de sala de aula serão relatadas. Acredita-se que um trabalho nesse sentido venha a servir de referência para futuras pesquisas e ações na área de educação, especificamente – mas não unicamente – em artes visuais, contribuindo assim, de maneira freiriana, no diálogo com outras áreas e campos do conhecimento, para a transformação suporte – mundo – em existência – vida (FREIRE, 1996). Possibilitando que a vida deixe de ser biologia para se fazer biografia (FIORI in FREIRE, 1987).



REFERÊNCIAS:

COELHO, Marcelo A. Madonnaro: gênero, técnica e linguagem pictórica. Monografia de Graduação em Licenciatura em Belas Artes, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica (RJ), 2015.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários à prática educativa. 25ª Ed. São Paulo (SP): Paz e Terra, 1996.
________. Pedagogia do Oprimido. 17ª Ed. Rio de Janeiro (RJ): Paz e Terra, 1987.
NAALIN, Felice. L'arte dei madonnari. Le tecniche. Del segno e del colore. Milano (Itália): Giunti Demetra, 2000.
NALIN, Felice. I Madonnari. Annunciatori di anziane storie. Verona (Itália): Edizioni MG, 1982.
VELHO, Gilberto. “Observando o Familiar”. In: NUNES, Edson (org). A Aventura Sociológica. Rio de Janeiro (RJ): Zahar, 1978.


1. Resumo enviado e aprovado ao XVI Seminário Discente PPCIS/UERJ 2018.

segunda-feira, 6 de maio de 2019

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL EM MANGARATIBA: seu lugar no currículo


Hoje aconteceu o segundo colegiado de Arte da rede municipal de Mangaratiba com vistas a ajustar a proposta curricular ao que prevê a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A reunião se deu no CIEP Brizolão 294 Candido Jorge Capixaba, na Praia do Saco. Como recomenda o documento oficial, aproveitando as aulas com o 8º ano, momentos antes de iniciar o colegiado, propus uma reflexão quanto ao que previa a proposta curricular. Dispus os objetos de conhecimento e os objetivos de aprendizagem no quadro e depois fomos lendo e comentando ponto por ponto. A proposta previa para o segundo bimestre com as turmas de 8º ano os seguintes objetos de conhecimento: Cor luz e cor pigmento: análogas, complementares e isocromia; Romantismo; Ritmo; Movimentos musicais urbanos; e Marchinhas.
Foi comentando sobre o Romantismo como sinônimo de “morrer de amores pela terra natal” que provoquei os alunos sobre como eles apresentariam a cidade de Mangaratiba a quem é de fora. Os alunos que se dispuseram a falar responderam: “Não venha para Mangaratiba!”. Ressaltaram problemas como a insegurança e a poluição. Reparei que nenhum deles disse dos patrimônios culturais da cidade. O Solar Barão do Sahy, a Fundação Mário Peixoto, a igreja de N. S. da Guia e outros patrimônios mangaratibenses não foram citados. Conclusão: os alunos não conheciam seu próprio território e cultura.
Foi quando aproveitei para um panorama sobre alguns desses bens culturais e a possibilidade de explorá-los cognitivamente e também como fonte de renda. Disse de como eles poderiam atrair pessoas para conhecer esses patrimônios culturais e o quanto isso poderia gerar receita econômica para o município e para as famílias. Incentivei-os a reconhecer a sua ‘terra’ como sinônimo de identidade e pensar uma atuação social para tentar reverter as situações que eles mesmos relataram como sendo problemas.
A partir disso foi sugerido por mim de acrescentar a Educação Patrimonial aos objetos de conhecimento do segundo bimestre. Na verdade, realizar uma ‘transferência’ já que o tema constava no terceiro bimestre. Os alunos concordaram. Então, a sugestão foi levado ao colegiado que também aprovou a ‘transferência’. Assim, nesse segundo bimestre, na rede municipal de Mangaratiba, no 8º ano do ensino fundamental, a Educação Patrimonial será alvo de debates, discussões, contextualizações e outras possibilidades de exploração pedagógica. Melhor: na medida do possível, uma decisão tomada a partir do diálogo entre aqueles que habitam o universo escolar.

domingo, 5 de maio de 2019

OS HOMENS-MEMÓRIA FAZENDO DIFERENÇA NA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

(Texto originalmente apresentado a uma turma de 7º ano, do Instituto Educacional Zion, em Itaguaí (RJ), no ano de 2018). 

Uma reflexão quanto aos homens memórias implica pensar a definição das palavras. A palavra “Homem” vem dimensionada no Webster’s Dictionary 1828 como: (s.m.) 1. humanidade; a raça humana; toda a espécie de seres humanos; seres distinguidos de todos os outros animais pelos poderes da razão e da fala, bem como pela sua forma e aspecto digno; 2. Um indivíduo do sexo masculino da raça humana; 3. Um macho da raça humana; usado frequentemente em palavras compostas, ou na natureza de um adjetivo; como um homem-criança; homens cozinheiros; homens-servos”.

Cabe ressaltar que a definição nº 3 parece aquela que melhor se adapta ao conceito de homem abordado neste texto. A palavra “Homem” vem composta de outra que mais que lhe conferir uma ‘qualidade’ pode expressar sua ‘identidade social’, seu vínculo com o grupo.

Por sua vez, o substantivo feminino ‘Memória’da raiz grega ‘mente’ significa “a faculdade da mente pela qual ela retém o conhecimento de eventos passados, ou de ideias passadas” (WEBSTER 1828 BRASIL). No caso, o termo ‘retém’ é mais que guardar para si mesmo; pode ser entendido como conservar para compartilhar. A memória, primeiro até pode ser individual, mas se ela não for socializada, morre como uma vaga lembrança. Eis o que escreveu Jacques Le Goff (1990, p. 477): “A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma a que a memória sirva para a libertação e não para a servidão dos homens”.

Assim sendo, vale a pena raciocinar sobre os homens-memória. Esses homens eram um patrimônio cultural das sociedades da oralidade: Nestas sociedades sem escrita há especialistas da memória, homens-memória: “genealogistas”, guardiões dos códices reais, historiadores da corte, “tradicionalistas”, dos quais Balandier [...] diz que são “a memória da sociedade” e que são simultaneamente os depositários da história “objetiva” e da história “ideológica”, para retomar o vocabulário de Nadel (LE GOFF, 1990, p. 429).

Os homens memórias eram ‘responsáveis’ por compartilhar com as novas gerações os tesouros culturais do passado. Preservando assim a vida em sua dimensão social, cultural, espiritual e até mesmo fisiológica. Na maioria das vezes os homens memórias eram idosos que, pela longa estrada de vida, eram detentores dos conhecimentos referentes ao grupo do qual fazia parte. Leroi-Gourhan (LE GOFF, 1990, p. 429), dentre outros, reconhece os idosos como personagens “na humanidade tradicional, o importantíssimo papel de manter a coesão do grupo”.

Na Bíblia a velhice aparece representada de maneira poética na metáfora dos cabelos brancos (Prov. 16.31; Sal. 71.18; Is. 46.4; Dn 7.9; Jó 15.10). O respeito foi requerido por Moisés aos homens memória quando escreveu: “Fiquem de pé na presença das pessoas idosas e as tratem com todo o respeito” (Lv 19.32 apud ULTIMATO, 1999). O ‘sofrido’ Jó (8.8) dá uma dica: “Indaga às gerações passadas, e considera o aprendizado que seus pais acumularam”. A todo o momento, na Bíblia, é estimulada a valorização dos homens-memória por meio da interação respeitosa, educativa e dialógica.

Em A República, Platão escreve uma experiência entre Sócrates e Céfalo, pai de Polemarco. Ao visitar aquele idoso Sócrates ouviu dele o pedido de aparecer mais vezes já que não podia mais se locomover com facilidade e circular pela cidade: “Ó Sócrates, tu vens muito raramente ao Pireu para nos visitar. Mas devias fazê-lo mais vezes, (...). Fica sabendo bem: à medida que vão murchando para mim os prazeres físicos, nessa mesma aumentam o desejo e o prazer da conversa” (PLATÃO, 2005, p. 08). Naturalmente essas conversas figuram reminiscências de fatos passados.

Então, Sócrates destaca a riqueza dessa conversa: “Certamente, ó Céfalo – disse eu –, pois é para mim um prazer conversar com pessoas mais velhas. Efetivamente, parece-me que devemos informar-nos junto delas, como de pessoas que foram à nossa frente num caminho que talvez tenhamos de percorrer, sobre as suas características, se é áspero e difícil, ou fácil e transitável” (PLATÃO, 2005, p. 08). A partir daí iniciam um fecundo bate-papo sobre a vida e a velhice...


Os homens-memória estão relacionados ao patrimônio cultural por serem detentores de significados culturais que outras formas de ‘transmissão’ como a escrita, a Imprensa, a mídia eletrônica e a internet não foram nem são capazes de fazê-lo. A existência dos homens-memória se justifica pela interação social: são adiantados em idade, mas estão vivos; se estão vivos necessitam, podem e têm direito a se relacionar com o outro. Sem os relacionamentos interpessoais não há compartilhamento e apropriação do patrimônio cultural. Daí que a aprendizagem de competências e princípios como o respeito, o diálogo, o caráter e tantos outros podem fazer a diferença nessa ‘modalidade’ de Educação Patrimonial.


REFERÊNCIAS:
BÍBLION. Velhice na Bíblia. Disponível em: <https://www.bibliaon.com/velhice/>. Acesso em: 24 de outubro de 2018.
LE GOFF, Jacques. Memória. In: _______. História e memória. Trad. Bernardo Leitão... [et al.]. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1990, p. 423-483.
PLATÃO. Sócrates. In: ________. A República. Trad. Heloisa da Graça Burati. São Paulo (SP): Rideel, 2005, p. 07-36.
ULTIMATO. A Bíblia e o idoso. Revista Ultimato, Viçosa (MG), Ed. 259, Julho-Agosto, 1999. Disponível em: <https://www.ultimato.com.br/revista/artigos/259/a-biblia-e-o-idoso>. Acesso em: 24 de outubro de 2018.
WEBSTER 1828 BRASIL. Disponível em: <http://www.dicionario1828.com/>. Acesso em: 24 de outubro de 2018.
WEBSTER’s DICTIONARY 1828. Disponível em: <http://webstersdictionary1828.com/>. Acesso em: 24 de outubro de 2018.

quarta-feira, 1 de maio de 2019

FAMÍLIA: um patrimônio cultural vivo

“Non c’è nulla di più bello che vedere una famiglia seduta a tavola, tra gioia e risate . . .”. Assim escreveu o poeta C.S. Lewis citado por Samra (2019). Traduzindo, o poeta irlandês disse: "Não há nada mais belo que ver uma família sentada à mesa, entre alegrias e risadas...". Nesse pequeno comentário é possível identificar uma metodologia de educação informal que vai refletir na educação formal: o riso como ação educativa para as relações interpessoais. Mais: isso é ainda Educação Patrimonial! 

Horta et al. (1999), no Guia Básico de Educação Patrimonial, entende as relações interpessoais como "patrimônio vivo". Nessas relações estão a culinária, os modos de falar e fazer, etc. Coisas estas presentes à mesa. Dentro desse conceito de patrimônio vivo, Grunberg (2007) sustenta ser a vida o primeiro patrimônio cultural que temos. Não há vida sem família! Então, preservar esse patrimônio cultural é investir no diálogo. No diálogo se dão as ações de Educação Patrimonial para a manutenção, esquecimento e inovações das práticas culturais.

REFERÊNCIAS:
GRUNBERG, Evelina. Manual de atividades práticas de educação patrimonial. Brasília, DF: IPHAN, 2007.

HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia básico de educação patrimonial. Petrópolis: Museu Imperial- DEPROM; Brasília: IPHAN/MinC, 1999. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/temp/guia_educacao_patrimonial.pdf.pdf>. Acesso em: 20 de junho de 2017. 

SAMRA, Lisa M. Ricette Bibliche. 2019. Disponível em: <https://ilnostropanequotidiano.org/2019/05/01/ricette-bibliche/>. Acesso em: 01 de maio de 2019.

terça-feira, 30 de abril de 2019

UMA AULA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL EM PORTO REAL

Hoje pude conhecer a Casa do Imigrante, um memorial à cultura italiana em Porto Real, cidade no sul do Rio de Janeiro. O local é repleto de fotografias, quadros, receitas culinárias, objetos e outros patrimônios que contam a história das pessoas que fizeram aquele lugar. Pessoas que deixaram suas raízes na Itália e vieram plantar novas histórias por aqui.

Após percorrer o espaço, já próximo da saída, me deparo com um casal de idosos. Pergunto: "_São italianos?". A senhora responde antes que o senhor o fizesse: "_ Ele é descendente!". Me atrevo: "De qual região na Itália?". Ele então tem a oportunidade de falar: "_ Modena". Foi o bastante para iniciarmos uma breve conversa ou quase isso...

Nos poucos minutos que firmamos relacionamento, mais ouvi do que falei. Foi quando entendi o que Platão quis dizer em A República quando escreveu que, à medida que vão murchando a força física, vai aumentando o prazer pela conversa. Só que ele não disse que seria uma conversa-terapia. Entendi que o idoso precisa falar... E nós, os mais jovens, apenas devemos ouvir.

E foi quando se deram aulas de Educação Patrimonial. Aquele casal era, em si, um verdadeiro patrimônio cultural. Ele contou, quando ela deixou, que fora criado em Porto Real até os 16 anos. Depois seguiu para Resende. Trabalhou anos afinco na fábrica de açúcar - que movimentara a economia local no passado. Pegou-me pelo braço e me conduziu a ver a foto de sua avó, uma das primeiras imigrantes a chegar ali. A senhora disse que essa avó, já coroada com a velhice, ainda apanhava uma vara para corrigir os netos que subiam nas árvores para apanhar os frutos. Era permitido apanhar os frutos sem subir nas árvores... Em um dos banners estava reproduzida a foto de um time de futebol da cidade. O senhor fez questão de apontar qual deles era o seu pai. "Conheci todos eles", completou.

Finalizamos a quase-conversa que se transformou em uma aula de Educação Patrimonial com o casal revelando que no meio do ano vão voar até à Itália para conhecer as origens. A viagem é um presente do filho que, reconhecendo o esforço do pais ao longo da vida, agora quer retribuir um pouco do que fizeram por ele. Boa Viagem e voltem para contar mais histórias...

domingo, 28 de abril de 2019

MADONNARO, TIJOLO E MESOPOTÂMIA


Madonnaro executado por um aluno do 6º ano após uma aula onde o tijolo foi pensado como uma 'invenção' mesopotâmica (Instituto Educacional Zion, Itaguaí, RJ).

segunda-feira, 22 de abril de 2019

A Educação Patrimonial na escola: a reprodução de obras de arte como referência para a construção social do patrimônio


A Educação Patrimonial na escola: a reprodução de obras de arte como referência para a construção social do patrimônio

Marcelo Amaral Coelho1

Texto publicado em  Atas [do] XIII Encontro de História da Arte. Arte em confronto: embates no campo da História da Arte, 10 a 14 de setembro, Campinas (SP). Marcos Tognon (cord.); Letícia B. P. K. de Campos [et. al.] (orgs.). Campinas (SP): UNICAMP/IFCH/CHAA, 2019, 925 p. il., pp. 611-618. Disponível em:https://www.ifch.unicamp.br/eha/atas/2018/eha2018completo.pdf. Acesso em: 23 de março de 2019.
Resumo
Este trabalho tem por objetivo apresentar uma proposta de reflexão onde a Educação Patrimonial encontre seu espaço na escola através da Arte de forma que possa contribuir na apropriação do patrimônio enquanto prática de construção social. O texto tomou forma a partir de uma metodologia que primou pela leitura de autores-referências na área e também com a observação participante em sala de aula. Estabeleceram-se como referenciais teóricos a orientar a pesquisa os seguintes autores: Maria de Lourdes P. Horta et al. (1999) com seu pioneirismo e reflexões quanto à Educação patrimonial; Teresinha S. Franz (2001) que pensa o contato com a Arte por meio da familiarização com as reproduções; Maria Cecília Londres Fonseca (2005) e seu conceito do patrimônio como um processo de referências culturais; Ana Mae Barbosa (1995) com visão de ensino artístico mediante uma abordagem triangular (conhecer, refletir e fazer). E ainda a Carta de Petrópolis (IPHAN, 1987) é o documento a sustentar o patrimônio como construção social. Dentro dessa prática de reflexão, as reproduções de obras de arte podem funcionar como referências para discussões sobre a forma como lidar com o patrimônio e até mesmo suas possíveis recriações. Ocorrendo o que Fonseca (2005) denomina como ‘ressemantização’ do patrimônio. Ainda a aproximação entre o ensino de Arte e a Educação Patrimonial pode abrir espaço para os conteúdos transversais e o diálogo entre as disciplinas. Sem contar a própria ressignificação das práticas de ensino artístico e da História da Arte dentro da escola. É esperado com este texto que o espaço do patrimônio em sala de aula seja conquistado pela Educação Patrimonial e o espaço da sala de aula no patrimônio possa ser dimensionado pelo ensino artístico. E assim, com a Educação Patrimonial na escola, a reprodução de obras de arte se constitua como referência para a construção social do patrimônio.

Palavras-chave: Educação Patrimonial, Leitura de Imagens e Patrimônio

Introdução
Este trabalho tem por objetivo apresentar uma proposta de reflexão onde a Educação Patrimonial encontre seu espaço na escola através da Arte de forma que possa contribuir na apropriação do patrimônio enquanto prática de construção social.
Alguns dos autores convidados a contribuir nesta reflexão foram: Horta et al. (1999) com seu pioneirismo e reflexões quanto à Educação Patrimonial; Franz (2001) que pensa o contato com a Arte por meio da familiarização com as reproduções de obras de arte2; (2005) e seu conceito do patrimônio cultural3 como um processo de ressemantização; Barbosa (1995) com visão de ensino artístico mediante uma abordagem triangular (conhecer, refletir e fazer). E ainda a Carta de Petrópolis (IPHAN, 1987) como documento que trata do patrimônio como construção social.
A partir dessa revisão teórica o texto pretendeu tratar das reproduções como referências para uma possível ressemantização do patrimônio.

Reproduções de obras de arte: referências para uma possível ressemantização do patrimônio

O limitado tempo disponível para as aulas de arte e a dificuldade em providenciar transporte dificulta o estreitamento entre a escola, o aluno e o patrimônio – que na maioria dos casos se encontra em um museu. Então a reprodução de obras de arte é um meio de levar a arte à escola.

E isto não quer dizer ainda, no verdadeiro sentido, que a arte está indo para as escolas. O que está indo, e em ‘boa hora’, é a informação sobre ela. Dependendo da qualidade das imagens, fixas ou móveis, (...) são, (...) muito mais ricas e mais rigorosas que as encontradas em textos literários sobre a arte, tão comuns ao ensino tradicional da história da arte e da estética” (FRANZ, 2001, p. 61).

Informação esta que, quando devidamente explorada, tem suas propriedades. Por exemplo, o encontro com o original da obra é muito mais profundo quando se tem antes o contato com informações relativas a ela.
As reproduções podem ter significado quando exploradas como referência e não como modelo a ser copiado. Tais reproduções viriam a compor o acervo do museu imaginário do aluno e ainda serviriam como ‘informação’ na construção do conhecimento. A escola entra como instituição para ampliação desse museu imaginário. Entendidas como referências e apropriadas como introdução ao patrimônio, as reproduções não seriam selecionadas ao acaso, como os modelos escolhidos tempos passados. Disse Bahia (2008, p. 68):

Assim, com importância equivalente à da cópia em outros tempos, Malraux destaca as práticas de seleção, organização e manipulação de reproduções de arte como dispositivo que impulsiona o processo de conhecer.

Entendidas dessa forma, as reproduções facilitariam o contato com o patrimônio. Não que se trate de uma plena democratização de acesso, mas de um processo de familiarização. Esse conceito é apropriado por Franz (2001) pensando a educação para a arte. Segundo este conceito, a competência para as artes é algo desenvolvido segundo a vivência e o contato com as obras de arte e ainda dependendo “(...) da posse de esquemas de percepção, pensamento e apreciação que são gerados pela familiarização” (PEREGRINO apud FRANZ, p. 50). Franz vai fundo e diz que o desenvolvimento da competência artística para a familiarização com a obra de arte é função da escola auxiliada pelos museus.
A ressemantização é um conceito que habita o campo do patrimônio. Ressemantizar, segundo o que se apurou, é o mesmo que ressignificar. Fonseca (2005) vai dizer que essa ressemantização implica considerar que o patrimônio é polissêmico. Sendo assim, a relação com o patrimônio, por mais que se pretenda homogênea, traz consigo a dimensão da “mutabilidade de significações e valores atribuídos” e a “multiplicidade de significações e valores atribuídos” (FONSECA, 2005, p. 44). É quando a ressignificação implica considerar as variadas leituras possíveis da obra de arte. Nesse sentido importa o auxílio de outras disciplinas e a atenção ao corte transversal nos discursos simbólicos.

Arte e Educação Patrimonial: transversalidade, interdisciplinaridade e currículo ressignificando práticas na escola
A aproximação entre o ensino de Arte e a Educação Patrimonial pode abrir espaço para os conteúdos transversais e o diálogo entre as disciplinas ressignificando das práticas de ensino artístico e da História da Arte dentro da escola. Tanto a transversalidade quanto a interdisciplinaridade são partes essenciais da Educação Patrimonial.
A Educação Patrimonial é um ‘conceito’ de educação que tem no patrimônio sua fonte primária de conhecimento. O Guia Básico de Educação Patrimonial, publicação pioneira na área, diz: “Trata-se de um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo” (HORTA et al., 1999, p. 04). A Educação Patrimonial chegou ao Brasil, em 1983, apresentada por Maria de Lourdes Horta Pereira, após um curso sobre monumentos na Inglaterra. O termo gera polêmica já que alguns preferem “Educação para o patrimônio”4 já que aquele ‘oficial’ parece denotar também bens comuns.
Segundo o IPHAN/MEC (2011, p. 10), o objetivo da Educação Patrimonial na escola “(...) é envolver a comunidade escolar no reconhecimento e valorização dos bens culturais e das pessoas que formam o patrimônio cultural, e que estão bem ao nosso lado”. O documento Educação Patrimonial na Escola (IPHAN, 2005) prevê que a Educação Patrimonial – tida como um “campo transversal” – estimule o espírito crítico, contribua para o desenvolvimento da cidadania dentre outras competências. Isso por meio de conteúdos que contemplem “cultura e patrimônio, história cultural brasileira e de seus formadores, história local, questões da globalização, bens culturais, memória e identidade, ambiente, família, saberes e fazeres” (IPHAN, 2005, p. 02).
Com vistas a explorar as reproduções como forma de construção social do patrimônio, a Educação Patrimonial pode colaborar por meio de seus quatro passos metodológicos. São eles: observar, registrar, explorar e apropriar5. Quando da observação o aluno pode fazer uso da percepção visual e simbólica; no momento do registro esse mesmo aluno pode recorrer aos esboços, estudos preliminares e outras alternativas; na fase de exploração se dá o levantamento de hipóteses, pesquisas em outras fontes, interpretação do que foi pesquisado, etc; por fim, para se apropriar do patrimônio, o aluno lança mão de desenhos, pinturas, gravuras e outras formas de arte. Além desses quatro passos, a Educação Patrimonial tem como marcas características a interdisciplinaridade e a transversalidade.
Por interdisciplinaridade se entende a relação de interdependência entre as disciplinas. É quando “(...) se estabelece uma interação entre duas ou mais disciplinas, com equilíbrio de forças nas relações estabelecidas, que resultará na intercomunicação de conceitos e de terminologias fundamentais” (IFC, 2017, p. 34). Considerar a interdisciplinaridade é reconhecer a necessidade de diálogo entre as disciplinas. Sem esse diálogo não existirá o conhecimento. Segundo Puhl (2016, p. 231), “uma ciência requer a existência equitativa da outra”. Será esse reconhecimento que proporcionará a integração entre a teoria e a prática.
A transversalidade corresponde às “questões sociais urgentes” (PCN, 1998). Questões estas que podem ser contextualizadas segundo demandas locais.

A transversalidade pressupõe um tratamento integrado das áreas e um compromisso com as relações interpessoais no âmbito da escola, pois os valores que se quer transmitir, os experimentados na vivência escolar e a coerência entre eles devem ser claros para desenvolver a capacidade dos alunos de intervir na realidade e transformá-la, tendo essa capacidade relação direta com o acesso ao conhecimento acumulado pela humanidade” (PCN, p. 65).

O que na BNCC (2017) aparece como “temas contemporâneos” que se expandem para a educação financeira, ciência e tecnologia, relações étnico-raciais, dentre outros assuntos.
Tomando as reproduções, principalmente aquelas de artes visuais, como referências de educação e patrimônio numa perspectiva transversal é possível refletir sobre ética quando se falar de conservação; trabalhar com a questão da orientação sexual quando envolver obras, por exemplo, com temas de abrangência ao nu; pensar a pluralidade cultural nas obras de artistas como Heitor dos Prazeres, Francisco Rebolo ou gravuras do cordel; raciocinar sobre assuntos de patrimônio natural quando da leitura de obras sobre a temática de paisagens; ponderar sobre saúde na visualidade e plasticidade das obras de Fernando Diniz e Leonilson; e discutir trabalho e consumo nas aquarelas de Debret ou na Arte Pop de Rubens Gerchman.
Então, para a efetivação de um caminho interdisciplinar e uma prática transversal se faz necessário a construção de um currículo integral. O currículo pode ser pensado para ressignificar as práticas de apropriação. Deve ser construído pensando em reforçar as referências culturais. Moreira e Candau (2007) vão falar do currículo como o “coração da escola”. O art. 26 da LDB diz:

Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela.

O currículo tem de ser fruto de “contextos concretos”, dinâmicos e interligados. A comunidade escolar é quem apresenta as demandas que constituem um currículo. O direito ao conhecimento deve sustentar a estrutura de um currículo (MOREIRA e CANDAU, 2007).
A integração curricular dos conceitos disciplinares pode explorar os temas comuns para valorização das disciplinas e suas interrelações. A incorporação de saberes de uma disciplina a outra deve ser feito por meio de reflexões críticas. A partir de uma reprodução se pode perceber os elementos artísticos, o tempo histórico, o local geográfico e demais conhecimentos. Essa integração permite que o patrimônio seja visto por vários ângulos.
A contextualização de um currículo integrado estimula a autonomia e o protagonismo. A integração com a família e com a sociedade fazem parte desta contextualização. O método dialógico (escutas, rodas de conversa, etc) pode contribuir para essa contextualização. A partir dessa metodologia podem surgir as problematizações para os temas geradores (FREIRE, 1996) que nortearão a construção do currículo. Essa contextualização permite que o patrimônio seja entendido por várias perspectivas.
Ainda o currículo pode ser construído como espaço de crítica cultural. Isso envolve abrir à escola para o patrimônio. As formas de arte ditas populares podem adentrar a escola, assim como, os alunos serem levados para fora da escola e entrar em contato com formas de arte condicionadas às classes dominantes. A intenção é ‘interculturalizar’ provocando a interação “(...) com outras manifestações e outros espaços culturais como museus, exposições, centros culturais, música erudita, clássicos da literatura”. (MOREIRA e CANDAU, 2007, p. 41).
O currículo precisa contribuir para a democratização de acesso ao patrimônio. A ideia de cultura como algo ligado à contemplação e apreciação culta de obras de arte ainda perdura em alguns currículos que propõem o estudo dos clássicos sem uma descontextualização para, em seguida, recontextualizá-los interrelacionados com a cultura local. O currículo deve “recuperar o direito à cultura” como

(...) direito de se apropriarem das práticas e valores culturais, dos sistemas simbólicos e do desenvolvimento da função simbólica tão central na construção de significados, na apreensão do conhecimento e no desenvolvimento pleno do ser humano etc” (MOREIRA e CANDAU, 2007, p. 12).

O currículo deve se ater às questões de diversidade e multiplicidade que podem haver no seio da própria sociedade ou grupo. O que envolve a Arte como forma de expressão e diálogo e o patrimônio como identidade simbólica. Um currículo pode potencializar os significados no espaço social de forma a contribuir no desenho das identidades sociais e culturais (MOREIRA e CANDAU, 2007, p. 12). O currículo é um espaço de construção social.

A reprodução de obras de arte como referência para a construção social do patrimônio
Tendo como referência um currículo integrado, interdisciplinar e transversal se pode aventar uma prática de ensino artístico que contemple a construção social e a apropriação do patrimônio. Para essa prática acontecer a Abordagem Triangular é uma opção.
A Abordagem Triangular foi desenhada no início da década de 1980 quando Paulo Freire atuava como secretária de educação na capital paulista e Ana Mae Barbosa dirigia o Museu de Arte Contemporânea (MAC/USP). Tinha como referência o Discipline Based in Art Education (DBAE), método de origem norte-americano, e o pensamento de Robert Ott (Image Watching – Olhando Imagens). A então “Metodologia Triangular”, hoje considerada pela própria Ana Mae Barbosa uma abordagem, considerava o fazer artístico, a leitura de imagem e a história da arte.
Tal abordagem se estabelece como um método dialógico que não encerra o conhecimento em fórmulas pré-estabelecidas. O dinamismo natural ao processo de leitura, conhecimento e produção de imagens implica a revisão constante do que foi percebido. Trata-se de um processo em constante (re)avaliação. Dessa maneira, a metodologia da Abordagem Triangular muito se aproxima daquela a qual recorre a Educação Patrimonial. A parte conceitual acontece quando da observação e do registro; a leitura da imagem é correspondente à exploração; e a produção de imagens proporciona a apropriação.
A contextualização é imprescindível no trato conceitual com a reprodução em sala de aula. É nesse momento que se pode verificar as conexões da obra com seu contexto fazendo-a ‘vibrar’ nos dias de hoje. As obras de arte, no caso daquelas que se enquadram na categoria de artes visuais, são ainda um testemunho da história. “Na história da arte, o objeto do passado está aqui hoje. Podemos ter experiência direta com fonte de informação: o objeto” (BARBOSA apud FRANZ, p. 63).
A leitura de imagens pode funcionar como estratégia para se ir além do patrimônio. É a partir da leitura de imagem, no caso da reprodução em sala de aula, que se pode alcançar uma introdução à ressemantização do patrimônio. Franz (2001, p. 64) fala da importância da leitura de obras de arte no ensino artístico como oportunidade de “desenvolver habilidades de interpretação e compreensão da arte”. Nessa interpretação e compreensão reside uma das possibilidades de apropriação do patrimônio.
Esse processo de leitura pode ser entendido como um caso de estudo ‘artístico-anatômico’. Freire (1987­) fala de processos de ‘redução’ para a decodificação de temas em partes que, analisadas em suas potencialidades, concebem importantes ligações com o todo. A redução dita por Freire é a escolha do tema ou assunto que, por meio da codificação implícita na imagem reproduzida, deve ser decodificado mobilizando a discussão que irá gerar o conhecimento. A decodificação é um processo conjunto entre professor/aluno e vice versa. Ali ninguém é sujeito ou destino da decodificação em estado último. Os papeis precisam ser flutuantes. A reprodução deve desencadear um processo de reciprocidade onde ora se é sujeito – responsável pela condução do processo – ora se é destino do processo.
O trato com as Artes Visuais vai se delinear principalmente pelo fazer artístico, conforme abordado por Ana Mae Barbosa. Um fazer artístico que, contextualizado não como “mania vulgar de falar da vida do artista”, mas antes uma “leitura como processo de significação”, conduza a experiência artística para além da “mera apreensão do objeto” (BARBOSA apud OLIVEIRA e HERNÁNDEZ apud PEDRO II, p. 04). Experiência esta que possibilita a apropriação da obra de arte – ou sua reprodução – como patrimônio.
Um fazer que exige, naturalmente, a exposição como forma de socialização. Buscando um conceituação de exposição se recorreu à Santos (p. 08)

a exposição é, ao mesmo tempo, produto de um trabalho interativo, rico, cheio de vitalidade, de afetividade, de criatividade e de reflexão, que dá origem ao conhecimento que está sendo exposto e a uma ação dialógica de reflexão, estabelecida no processo que antecedeu a exposição e durante a montagem, além de ser ponto de partida para outra ação de comunicação”.

É no momento da exposição que as apropriações do patrimônio em forma de Arte realizadas em sala de aula ganham o espaço ‘público’ e dialogam para sua ressignificação. Nesse contexto, a construção social como “fazer cultural” previsto na Carta de Petrópolis (IPHAN, 1987) – ainda que sob um contexto arquitetônico – implica considerar uma dinâmica que não congela as reinterpretações. No caso da Carta, a cidade é vista como uma produção “socialmente fabricada”, o que implica entendê-la como um processo de acréscimos ao longo do tempo. Com as reproduções os acréscimos são as ressignificações em sala de aula e as reinterpretações quando da exposição. Será construção social porque implica considerar as várias interpretações que podem vir ancoradas por conhecimentos disciplinares, afetividade, herança, etc. O que pode vir a causar discordâncias e debates. É quando o método dialógico e um pouco do conhecimento apropriado poderão mediar o processo.

Considerações
Pelo que foi abordado no texto pode-se ter as reproduções como referências para ressemantizar e ressignificar o patrimônio. A Arte – enquanto disciplina – pode ancorar a Educação Patrimonial – um campo transversal – na escola uma vez que é capaz de ‘oferecer’ o currículo enquanto aquela traz consigo a transversalidade e a interdisciplinaridade. As reproduções podem se constituir em uma ótima referência para o ensino de Arte e a construção social do patrimônio. Possibilitando assim, a apropriação interdependente de ambos.
Que fique claro: nada substitui o contato direto com o patrimônio. As reproduções até são importantes ferramentas na ‘alfabetização estética’ nas escolas, mas não são as obras de arte. As reproduções têm seu caráter educativo. Mas o contato direto é imprescindível. Seja por dificuldades de locomoção aos espaços de exposição ou por limitação do professor a reprodução não deve se tornar uma finalidade para a prática educativa.

Referências
AZEVEDO, Fernando Antônio G. de e ARAÚJO, Clarissa M. de. Abordagem Triangular: leitura de imagens de diferentes códigos estéticos e culturais. Revista GEARTE, Porto Alegre, v. 2, n. 3, dez. 2015, p. 345-358.
BARBOSA, Ana Mae. Arte-Educação no Brasil. S. Paulo (SP): Perspectiva, 1995.
FONSECA, Maria Cecília L. O Patrimônio em processo: trajetória da política federal de preservação no Brasil. 2ª ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: UFRJ/Minc-IPHAN, 2005.
FRANZ, Teresinha S. Educação para a compreensão das artes. In: _________. Educação para a compreensão da arte. Florianópolis: Insular, 2001, p. 43-87.
HORTA, Maria de Lourdes P. et. al.. Guia básico de educação patrimonial. Petrópolis: Museu Imperial-DEPROM; Brasília: IPHAN/MinC, 1999. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/temp/guia_educacao_patrimonial.pdf.pdf>. Acesso em: 20 de junho de 2017.
IPHAN. 1º Seminário Brasileiro para Preservação e Revitalização de Centros Históricos, Petrópolis, 1987. Carta de Petrópolis. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Carta%20de%20Petropolis%201987.pdf>. Acesso em: 15 de junho de 2017.
PUHL, Mário José. O conhecimento e o princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, nº 69, p. 222-232, set. 2016. Disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/view/8645281/15138>. Acesso em: 08 de junho de 2018.
SANTOSMaria Célia T. MMuseu e Educação: Conceitos e Métodos. In: SANTOS, M. C. M. Encontros Museológicos. Rio de Janeiro: MinC/Iphan/DEMU, 2008.
SCHROEDER, Silvia C. N. A arte como linguagem: um olhar sobre as práticas na educação infantil. Leitura: Teoria & Prática, v. 30, n. 58, p. 77-85, jun. 2012.

Notas:
1 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Mestrando em Patrimônio, Cultura e Sociedade (PPGPACS/UFRRJ); Especialista em Educação Museal (ISERJ/FAETEC/IBRAM); Graduado em Licenciatura em Belas Artes (UFRRJ).
2 A partir desse ponto, sempre que o texto trouxe o termo “reprodução” estará se referindo à “reproduções de obras de arte”.
3 Também com relação a este termo, no decorrer do texto, sempre que o leitor encontrar “patrimônio” entenda-o em seu complemento “cultural”. Em tempo: para conceituar “Patrimônio Cultural” se recorreu à SANTOS (2008, p. 06), onde este “(...) é compreendido como a relação do homem com o meio, ou seja, o real, na sua totalidade: material, imaterial, natural e cultural, em suas dimensões de tempo e de espaço”.
4 “(...) poderíamos pensar no conceito de “Educação para o Patrimônio”, que pode ser entendido como formas de mediação que propiciam aos diversos públicos a possibilidade de interpretar objetos de coleções dos museus, do ambiente natural ou edificado, atribuindo-lhes os mais diversos sentidos, estimulando-os a exercer a cidadania e a responsabilidade social de compartilhar, preservar e valorizar patrimônios com excelência e igualdade” (GRINSPUN, 2000, p. 30).
5 “Prefiro o termo ‘apropriação’ à ‘aprendizagem’, pois reforça a ideia de que o conhecimento é sempre reconstruído de uma maneira singular pelo aprendiz” (SCHROEDER, 2012, p. 82).

domingo, 21 de abril de 2019

MADONNARO STORICO


O Madonnaro Storico (NAALIN, 2000) era produzido com cacos de tijolos, carvão, giz e terra colorida. Hoje o Madonnaro, ou Arte de Estrada, é feito com giz pastel demonstrando grande riqueza cromática.

sábado, 20 de abril de 2019

MAIS UM MADONNARO STORICO






Madonnaro Storico realizado em 19 de abril como referência à Páscoa. Uma obra feita em família (com a colaboração dos filhos). As figuras presentes na obra são aquelas que habitam as paredes das catacumbas paleocristãs de Roma. Mais uma obra realizada com carvão, tijolo e giz branco.

sexta-feira, 19 de abril de 2019


A MÃO
2019
Madonnaro Storico (Carvão, Tijolo e Giz Branco)
Escola Municipal José Ferreira da Silva
Porto Real (RJ)