domingo, 28 de setembro de 2014

CARVÃO E GIZ: Experimentos


Estudo a partir de "Estudo para Madonna e Menino com fuso" (1501), de Leonardo na Vinci, no acervo da Royal Library/Windsor (Londres, Inglaterra). O desenho de referência consta no livro Leonardo da Vinci, KENNEDY, Clark (1902-1983). Introdução de Martin Kemp; trad. Thaís R. Manzano. Rio: Ediouro, 2003, p. 207. ISBN 85-00-01642-6. A ideia era experimentar as possibilidades a partir do carvão e do giz; linha, hachura, passagens de claro-escuro e luminosidade  foram valores buscados na execução do desenho. Novamente serviu de suporte um espaço em minha própria residência.

sábado, 20 de setembro de 2014

TIJOLO, CARVÃO E GIZ: Experimentando.


Estudo a partir de "Passatempo (Arearea)", de Paul Gauguin. A ideia era experimentar materiais como o carvão vegetal, o tijolo e o giz branco. Materiais estes comuns aos primeiros madonnari. O carvão e o giz permitiram uma melhor cobertura das áreas de cor. O tijolo, dependendo da qualidade da superfície, não resulta em cor apurada_ no caso um tom alaranjado. Como suporte foi usado a área de um corredor domiciliar. O estudo foi impedido de chegar ao final por conta de um contratempo comum à prática do madonnari: a chuva. 

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A ARTE DOS MADONNARI

"Rosto de Jesus", obra realizada em Verona (Itália). Marcelo Amaral

L'arte dei madonnari. Le tecniche. Del segno e del colore”* parece ter sido escrito com a finalidade didática de compartilhar o madonnari. Vai da história até os procedimentos de execução. O autor, Felice Naalin, é, antes de tudo, um madonnaro. Rodou o mundo desenhando sobre pavimentos. Mas também é professor_ e fundador da Scuola Internazionale di Madoneri de Verona (Itália)_ e estudioso do tema. Pioneiro. “Dos madonnari jamais se havia escrito até os anos ‘70’”, diz ele em Artista se nasce (2006). Revelando ainda em tom confessional: “Quem quiser, portanto, refazer o gesto dos artistas da estrada, retornando no tempo, deve assumir uma postura de apaixonado, viver como filho na arte os gestos dos pais, procurando estabelecer as necessidades, a ritualística do passado.” (2006, p. 91)

A história dos madonnari remonta às origens do Cristianismo. Se não enquanto técnica, tão somente como temática. Numa época em que são percebidas nas catacumbas as imagens de Maria com o menino Jesus. Ali tem início o culto mariano. Um culto com influências pagãs de divindades femininas “(...) bem enraizadas nos cultos populares.” (p. 10) Desse contato com a cultura pagã surgem vários tipos de representação de Maria (Madonna). A Madonna como ideal de beleza iria influenciar a arte pictórica. “Na Madonna se encarna o mito da beleza absoluta, e sobre este tema artistas grandes e pequenos, nômades como os madonnari ou locais como aqueles de cavalete, têm criado sugestões para o culto e com frequência obras de arte sublimes.” (p. 12). A imagem de Maria, junto com aquela do menino Jesus, a partir de 1539, com os Jesuítas, “(...) se tornaram o motivo condutor da cultura católica.” (p. 25) A imagem deveria ser uma cópia do original, ou seja, “o ponto de referência é o primeiro retrato de Jesus de Nazaré e de sua Mãe.” (p. 26)

Entre os séculos VIII e IX, é quando se acirram os debates sobre a representação do sagrado. Período conhecido como “Iconoclasta”. É quando se trava “(...) uma espécie de guerra entre a Igreja Romana e a autoridade do Império do Oriente pelo dinheiro ganho com a venda dos ícones, um conflito iniciado por Leone III.” (p. 26) Findando a Idade Média a arte ganha mais independência. O Renascimento traz consigo os gênios da pintura. Os madonnari crescem à sombra desses grandes artistas. Reproduzem suas obras com o objetivo de divulgá-las. Vão pelos santuários a “(...) reproduzir as obras de Rafael ou de Michelangelo ou mais simplesmente o aumento de qualquer imagem reproduzida em ‘santinhos’.” (p. 18) No século XVI, em Veneza, se tem notícia dos primeiros madonnari, provenientes de Creta. Dentre eles, Domedico Theotocopoulos, simplesmente conhecido como El Grego. Daí em diante o madonnari se desenvolve sem muito destaque, como disse o autor logo nas primeiras linhas do presente livro.

O madonnari é uma obra pública. Em completa relação com o outro. “No fundo, os produtores e os destinatários das obras de arte interagem, se tornando em qualquer modo um unicum.” Pode-se definí-lo como “(...) a antiga arte de espalhar com os dedos e a palma da mão o giz sobre o asfalto.” (p. 34) Uma obra feita ao ar livre. Tal aspecto externo, exposto ao tempo, torna o madonnari efêmero, “anulado pela primeira chuva ou pelos passos dos apressados pedestres.” (p. 40) Mas, de outra parte, a efemeridade é característica pré-existente para que a obra seja executada em locais onde, por questões históricas ou arquitetônicas, não possa ter vida longa.

Naalin acena com aquele que deve ser o procedimento para execução do madonnari. Primeiro se deve escolher o modelo; depois é conveniente fazer um esboço e em seguida definir o desenho. Para que o pastel penetre bem e, por conseguinte, as cores se façam estáveis, é fundamental que se atente à escolha da superfície que deve ser “(...) bastante homogênea e com uma porosidade não excessiva.” (p. 117) Deve-se estar atento àquilo que possa interferir no resultado final da obra. Assim, resíduos gordurosos (óleos, graxas, etc.), restos de goma de mascar (chicletes), ceras e tantos outros devem ser eliminados. A área a receber o madonnaro deve ser demarcada em forma de quadrado ou retângulo. Para inserir a figura “(...) é necessário dividir o espaço da representação em verticais e em horizontais, resultando numa cruz centrada sobre o campo de operação.” (p. 118) Os espaços devem novamente ser subdivididos formando, então, um quadrado ou retângulo central que  “receberá” a imagem. O esboço sobre o pavimento “(...) vai realizado com um pastel de tom neutro e com pouca intensidade de cor.” (p. 117) Somente então é que se aplicam as áreas de cor. Considerando que “o sábio uso das cores quentes ou frias, colocadas corretamente, dá qualidade à imagem.” (p. 111)

O madonnari se constitui numa ótima ferramenta pedagógica. Principalmente no que diz respeito ao público infantil. O autor confessa: “Encontrar nas praças grupos de crianças que com alegria e orgulho desenham sobre o asfalto os temas a elas importantes é de notável fascínio.” (p. 34) Não há como negar a origem religiosa da técnica. Porém, existe o aspecto lúdico. Desenhar com giz é extremamente prazeroso. E o lúdico pertence ao humano. Em razão disso, também o madonnaro é próprio aos adultos. Escreve o autor: “(...) podemos afirmar que a profissão do desenhista de imagens nasce da necessidade que tem o homem de representar o invisível.” (p. 14) Diante disso é possível ao adulto de se expressar. Naquele contexto inicial da técnica, o invisível era especificamente o divino. Hoje pode ser a angústia, os sonhos, a raiva, a amizade... o interior do indivíduo. A partir daí, então, se permite pensar soluções e formas de discurso através dos elementos da arte.

* A Arte dos madonnari. As técnicas. Da linha e da cor.

BIBLIOGRAFIA:
DICIONÁRIO ITALIANO. In: http://dizionarioitaliano.it.
NALIN, Felice. L'arte dei madonnari. Le tecniche. Del segno e del colore. Giunti Demetra, 2000.
____________. Artisti si nasce. Tormento ed estasi. West Press, 2006