Estamos muito felizes... Não passamos à fase final do XVII Prêmio Arte na Escola Cidadã, promovido pelo Instituto Arte na Escola. Porém, foi uma experiência maravilhosa ter chegado à fase semifinal. Participamos com o projeto "O desenvolvimento sustentável a partir da prática artística do Madonnaro", desenvolvido com alunos do 6º ao 9º anos da Escola Padre Valerio Pierpaoli (Santa Mônica Centro Educacional), em Piranema - Seropédica (RJ). Foram cerca de 807 inscritos e 434 projetos selecionados. Destes, 276 chegaram à semifinal - dentre eles o nosso. A fase final tinha espaço para apenas 25 projetos. O que elevava muito o nível da 'disputa'. Fica a satisfação de ter realizado uma atividade em sala de aula que encontrou ressonância fora do espaço da escola. Acreditamos ter valorizado a nossa disciplina e feito jus a todo o esforço desprendido para a preparação do projeto. Quem sabe o texto enviado não se transforma em um artigo para publicação... Enfim, agradeço de coração a Deus a oportunidade de ter vivenciado esta experiência!!!!! Também deixo minha gratidão à direção da escola, à supervisão pelo apoio, aos professores-parceiros e aos alunos por terem participado do projeto.
Blog destinado a registrar os resultados obtidos em pesquisas no campo da arte do Madonnaro e da Educação ao Patrimônio. O Madonnaro é uma técnica italiana de pintura sobre o pavimento, surgida no séc. XVI, que faz uso de materiais efêmeros como o giz, o carvão, o tijolo, etc. A Educação ao Patrimônio é um campo transversal de conhecimento (IPHAN, 2005) centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária.
sexta-feira, 26 de agosto de 2016
quinta-feira, 18 de agosto de 2016
MADONNARO EM PRETO E BRANCO
Nosso trabalho intitulado "Madonnaro: mediando saberes na escola a partir do Salão Preto e Branco" e selecionado para o VIII Congresso de Pesquisa e Extensão e da III Semana de Ciências Sociais da UEMG/Barbacena se encontra publicado nos anais do evento disponível em: http://www.uemg.br/openjournal/index.php/anaisbarbacena/article/view/1646/937. Acesso em> 18 de agosto de 2016.
quarta-feira, 17 de agosto de 2016
O RESTO É ATUALIDADE!
O texto que segue é uma tradução livre de uma matéria de jornal (foto acima) publicada na página do Facebook do Museo dei Madonnari de Curtatone, na Itália (1). A matéria traz informações sobre a organização do Encontro Nacional de Madonnaro, realizado em 1973. Segue:
O concurso dos artistas
do giz entre tradição, arte e cultura popular – Cesare Spezia, do Museu dos
Madonnari, conta a história da manifestação nascida em agosto de 1973 por
iniciativa de Dino Villani. A primeira edição contou com dez participantes.
Cesare Spezia é o símbolo por
excelência dos madonnari das Graças. Ele
não é um madonnaro, mas foi o ponto
de referência para os artistas do giz desde sua chegada à pequena localidade
sobre as margens do rio Mincio, em início dos anos 1970. Foi, dentre outros, um
dos fundadores do Museu dos Madonnari
e do CIM (Centro Italiano Madonnari), onde ainda hoje trabalha. É uma viagem
fascinante no tempo aquela que se pode fazer através de suas histórias, as quais
contam dos artistas que fizeram de Grazie di Curtatone o centro por excelência
da pintura sobre estrada na Itália.
“O Encontro Nacional dos Madonnari,
Prêmio Gessetto d’Oro teve início em
15 de agosto de 1973 sobre a pracinha à frente do Santuário de Santa Maria das
Graças – explica Spezia. Se trata do primeiro concurso para pintores de estrada
jamais antes realizado. À primeira edição estiveram presentes dez pintores,
entre os quais eram alguns de mestiere,
definidos como ‘pintores de calçadas’; outros eram pintores naifs da
localidade. A obra pictórica devia ser de tema sacro, reconhecido pela tradição
cristã popular, e devia ser realizada
segundo os ditames da arte madonnara, ou seja, rigorosamente a giz, a seco,
diretamente sobre o calçamento de pedras da praça e no tempo reduzido até o
final da manhã. A ideia – continua – nasceu de alguns pesquisadores mantovanos
de tradições populares em via de extinção e foi inspirado por uma canção em
voga à época de título “La ballata del pittore”, de Nanni Svampa, que falava de
um pintor de estrada e das suas desventuras”.
Porque exatamente em Grazie di
Curtatone? Quem teve esta ideia? “A localidade por poder experimentar semelhante
manifestação foi sugerida por Dino Villani (pintor e idealizador de manifestações
populares, entre as quais “Miss Itália”) em Grazie, durante a Antiquíssima
Feira de 15 de Agosto (Assunção de Maria), uma festa já muito frequentada. O
projeto – disse spezia - foi elaborado por Gilberto Boschesi (então
vice-presidente do Órgão de Turismo de Mântua, pesquisador de tradições
populares e idealizador de iniciativas folclóricas) e de Maria Grazia
Fringuellini (Assessora de Imprensa do Órgão de Turismo) e proposto à
Prefeitura de Curtatone e à Pro loco, para impulsionar a Feira das Graças. A
iniciativa teve rápido sucesso, também pela presença no júri do conhecido
jornalista de TV Enzo Tortora e a mobilização de muitas manchetes jornalísticas
em nível nacional, trazendo uma atração de tanta originalidade. O encontro, com
o anexo concurso que premia o melhor artista, constitui de fato a primeira
disputa entre pintores de estrada que se tenha memória. E assim, dos dez
artistas da primeira edição, se chegou a duzentos participantes, e que agora o
número está em torno de cento e cinqüenta artistas. Foi durante a primeira
edição do concurso de Grazie que a Imprensa os denominou em definitivo de
“Madonnari”. Aos velhos artistas, no tempo, se aproximaram jovens freschi vindos da Academia, que trocaram
a simples iconografia da pintura popular por pinturas de notáveis dimensões e
de genial elaboração – conclui Spezia. A célebre obra “Juízo Final”, pintada na
ocasião da visita papal de 1991 e projetada pelo americano Kurt Wenner, traçou
um claro sulco entre a velha tradição e o novo. O resto é atualidade”.
1 - ANTICHISSIMA FIERA DELLE GRAZIE. Il concorso degli artisti del gessetto tra
tradizione, arte e cultura popolare. Disponível
em: <https://www.facebook.com/AntichissimaFieraDelleGrazie/photos/a.128696990606136.27469.120259808116521/766121346863694/?type=3&theater>. Acesso em: 16 de agosto de 2016.
terça-feira, 16 de agosto de 2016
MADONNARI EM VALENÇA
Turma 901
Turma 902
Turma 903
Madonnari produzidos pelos alunos do 9º ano do Instituto de Educação Dr. Luiz Pinto, em Valença (RJ). Os trabalhos forma realizados dentro do Projeto Recreio Cultural, onde durante o recreio, em apresentações quinzenais, as turmas realizam alguma atividade de natureza artística aos outros alunos e quem estiver na escola naquele horário. O projeto é interdisciplinar e está sob responsabilidade das disciplinas de Arte e Educação Física. Dessa maneira, ainda considerando o esporte como um instrumento para a promoção do respeito, este um tema geral da escola para o ano de 2016, propusemos aos alunos desenhos de natureza 'olímpica'.
segunda-feira, 15 de agosto de 2016
O perene e o efêmero: um estudo diagnóstico da relação com a imagem num contexto protestante através da prática Madonnaro na Primeira Igreja Batista de Itaguaí (RJ)
Introdução
A ideia de desenvolver uma pesquisa de campo no âmbito protestante surgiu
a partir da experiência com o grupo do qual fazemos parte - no caso, a Primeira Igreja Batista em Itaguaí (RJ). Foi ali que tivemos nossos primeiros contatos com a arte da pintura.
Desde pequeno ficávamos fascinados com as pinturas de batistérios [1].
Aquelas imagens nos arrebatavam. Sentíamos como se molhássemos os pés nas águas daqueles
rios pintados nas paredes.
O
tempo passou... Pintamos alguns batistérios... Enveredamos pelo caminho das artes. Cursamos Licenciatura em Belas Artes, na UFRRJ. Em 2012 fomos selecionados para o Programa Ciências sem Fronteiras
(CAPES). Frequentamos algumas disciplinas do curso de História da Arte na Universidade de
Padova (Itália). Porém, dias antes da viagem, em um evento acontecido na
Primeira Igreja Batista em Itaguaí, realizamos uma pintura-performance [2]
do rosto de Jesus. Enquanto uma música era cantada a pintura fora sendo realizada.
Utilizamos tinta acrílica preta e o pincel era minha própria mão. O resultado foi surpreendente!
Já
em solo italiano, muitos dias depois, através da internet, vimos que a pintura
ainda estava dentro do templo. Automaticamente nos questionamos: O que devem estar
pensando as pessoas sobre aquela imagem dentro da igreja? Sobre 'as pessoas' entendíamos tanto os membros da igreja quanto aqueles de fora do ambiente protestante. O que fez com que
aquela pintura permanecesse lá por tanto tempo? Afinal de contas, era uma
imagem! Deixaram a pintura lá por consideração a nós? A pintura representou
alguma coisa? Tudo não passou de um descuido? Essa experiência em particular nos fez refletir muito sobre a questão da imagem no contexto protestante.
A
Primeira Igreja Batista é bastante conhecida na comunidade itaguaiense. Desde
12 de agosto de 1945 ela existe como instituição sócio-religiosa– e porque não,
cultural – na cidade. Fora fundada por um grupo de 22 pessoas, que se reunia num imóvel onde
hoje se encontra construído o prédio da prefeitura municipal. Em 1948, a igreja
comprou o terreno para a construção do primeiro templo, inaugurado após dois
anos [3].
Com o passar dos anos foram feitas ampliações naquele templo e ainda ergueu-se
o prédio anexo para educação religiosa. O templo atual – com inauguração
prevista para agosto de 2015 quando a PIBI completará 70 anos – ocupa o espaço
do antigo tempo ampliado mais o terreno vizinho adquirido em 1998. O patrimônio
físico da PIBI contempla o templo, dois estacionamentos, dois banheiros
públicos, um berçário, dezessete salas e uma cantina.
Foi nesse contexto carregado de certa afetividade que escolhemos fazer nossa
pesquisa antropológica. O público-alvo era o nosso próprio grupo. É esta uma ação
etnográfica que Velho vai denominar “Observação familiar” [4].
Tantos estudiosos já defenderam que deve haver distanciamento para que se possa
realizar uma observação neutra. No entanto, por outro lado, estudos já
revelaram que o envolvimento com o grupo a ser observado é inevitável. O que sugere que a
subjetividade não respeita distanciamentos. Mais: não anula a objetividade.
Pois, se é necessário haver imersão para apreender a realidade pesquisada o que
dizer dos casos onde o etnógrafo é parte integrante?
Damatta fala de um distanciamento
psicológico que transforma o familiar em exótico como
estratégia para não se perder em meio à inevitável subjetividade no campo [5]. Um
dos caminhos para estabelecer este distanciamento e encontrar possíveis
respostas para aquelas indagações registradas no início desta introdução foi
problematizar a questão da imagem. O objetivo principal da pesquisa foi
investigar diagnosticamente como os
protestantes lidam com a imagem diante da imagem. A questão que conduziu a
investigação não poderia ser outra senão aquela relacionada à idolatria. Porém,
como contraponto para reflexão, até onde a imagem pode se constituir em visão
de mundo? Para tanto, utilizamos a própria Bíblia, livro fundamental ao protestantismo,
como matriz para os questionamentos.
Desenvolvimento
A fim de compreender
cientificamente como os membros da PIBI lidavam com a imagem elaboramos um
roteiro onde seria produzida uma obra em Madonnaro [6] nas dependências da igreja como instrumento de mediação para a reflexão
idolatria/iconografia. Tal reflexão seria construída por meio da observação e
da aplicação de um questionário.
Uma das primeiras ações foi reunir referências que substanciassem a pesquisa.
Assim, selecionamos um trabalho feito em 2011, para a disciplina de Filosofia da
Arte, sob o título “Imagem em Ação” [7].
Para aquele texto, uma das principais referências foi Vilém Flusser [8].
A partir dele recorri às demais fontes. A
Bíblia Vida Nova – Editor resp. Russell P. Shedd; trad. em português João
Ferreira de Almeida [9] – serviu de base para o
conteúdo bíblico; a Storia dell'Arte Paleocristiana [10],
Ennio FRANCIA, forneceu informações preciosas de caráter histórico; outra fonte
italiana foi L'arte dei madonnari: Le tecniche. Del segno e del colore, excelente
livro escrito por Felice Naalin, sobre a técnica Madonnaro; e para o suporte antropológico recorremos a Observando
o Familiar, de Gilberto Velho [11]
e O Ofício de Etnólogo, ou como Ter “Anthropological Blues”, de Roberto Damatta [12].
Outras fontes foram exploradas no decorrer da pré-pesquisa.
Utilizamos os dois modos de abordagem técnica: a entrevista e a observação
participante. O fato de estar presente no local da pesquisa possibilitou um
contato com as pessoas permitindo que se colhesse informações importantes. Além
de poder observar as reações físicas e emocionais [13].
Outra forma de abordagem, a entrevista, se deu por meio da aplicação de um questionário. Como método
de aplicação optamos por uma entrevista dita 'Estruturada' [14].
Ou seja, as respostas seguiam um determinado direcionamento segundo o sistema
de múltipla escolha. A aplicação do questionário foi feita no dia 30 de
novembro de 2014, um domingo pela manhã.
Para a construção do questionário, como dito acima, em sistema de
múltipla escolha, recorremos a um objeto muito peculiar ao grupo pesquisado: a
Bíblia. Todas as questões referentes à 'imagem' foram elaboradas a partir de um
versículo bíblico. As respostas, por sua vez, continham algum fundamento
relacionado às referências bibliográficas adotadas para a elaboração deste
projeto. Essa proposta de trabalho unindo Bíblia e Ciência foi uma forma de não
afastar o grupo da participação na pesquisa.
Naquela parte inicial,
quando se procura saber quem é o participante, não fizemos questão do nome.
Perguntamos:
1-
Idade: _____ anos Sexo:
(M) – (F)
2-
Religião:________________________________
3-
Cidade: _________________________________
|
Resolvemos por incluir
“Religião” e “Cidade” para o caso de estar presente e querer participar da
pesquisa alguém externo àquela comunidade. Seria interessante colher uma
opinião dessa natureza.
Em
seguida, quisemos saber rapidamente sobre o perfil cultural dos entrevistados e
opiniões pessoais diretas. Então:
4-
Tem costume de frequentar museus, espaços culturais, centros culturais ou
casas de cultura?
( ) Sim (
) Não ( ) Às vezes
5-
Pratica alguma atividade artística?
( ) Música
( ) Teatro ( )
Pintura ( ) Desenho (
) Escultura ( ) Literatura
Outra:
____________________________________.
6-
A Pintura tem espaço na Igreja?
( ) Sim
( ) Não
7-
Pintura é idolatria? ( ) Sim
( ) Não
|
Na tentativa aprofundar mais o assunto, a partir
da questão número 8, passamos a utilizar das referências e da Bíblia. Querendo,
nas entrelinhas, saber sobre o processo de criação da imagem perguntamos:
8-
Em Gênesis 1.2 está escrito: “A terra,
porém, era sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o
Espírito de Deus pairava por sobre as águas.” É possível concluir que
Deus:
(a)-
organizou o mundo a partir de “imagens”, “coisas visíveis”.
(b)-
ao criar o mundo estimulou a idolatria.
(c)-
não criou o mundo.
|
Já para a possibilidade da imagem constituir-se num
instrumento pedagógico a questão era:
9-
“E disse (Josué) aos filhos de Israel: Quando no futuro
vossos filhos perguntarem a seus pais, dizendo: Que significam estas pedras?”
(Josué 4.21). Deus havia acabado de ordenar a construção de um memorial com
pedras tiradas do leito do rio Jordão. Uma “imagem” no meio do acampamento de
Israel! Aquele monumento naturalmente suscitaria questionamentos. Então:
(a)-
a imagem serve apenas à publicidade.
(b)-
Deus aprova a adoração de imagens.
(c)-
a Imagem (obra de arte) pode ser um valioso meio de reflexão.
|
Na questão 10...
O
apóstolo Paulo, escrevendo à Igreja de Colossos, disse: “Ele (Jesus) é a imagem do
Deus invisível, o primogênito de toda a criação; (...).” (Colossenses
1.15) Com isso, Paulo afirmou que:
(a)-
Jesus não é Deus.
(b)-
Jesus é Deus manifesto visivelmente como uma “imagem” real.
(c)-
Deus aprova a idolatria.
|
A Idolatria é tratada na questão 11:
11-
Um evento bem conhecido é aquele quando Moisés recebeu os Dez Mandamentos. Um
dos Mandamentos alerta: “Não farás para
ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem
em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes
darás culto; (...).” (Êxodo 20.4-5) Em sua opinião:
(a)-
não é permitido fazer arte na Igreja.
(b)-
Deus condena a adoração de imagens.
(c)-
apenas as esculturas são proibidas de serem produzidas.
|
Em
seguida, nas questões 12 e 13, perguntamos sobre o tema do Madonnaro. Primeiramente, tratamos do paradoxo perene x efêmero
presente nesta técnica de arte. Na questão seguinte tratamos de um tema caro aos
católicos, a Virgem Maria (Madonna), como matriz do Madonnaro.
Talvez o questionamento que resumia ambas as perguntas seria: Qual o valor da imagem
no meio protestante? É produto? É idolatria?
12-
O Madonnaro é uma técnica de arte
surgida no século XVI, na Itália. Trata-se da produção de pinturas sobre o
pavimento com giz. Uma das principais características do Madonnaro é a efemeridade. Feito com giz e ao ar livre é possível
ser apagado com a chuva, o vento ou pelos passos apressados das pessoas. É
uma imagem temporária; não existe como “produto”. Ainda assim, você considera
o Madonnaro uma forma de arte?
( ) Sim
( ) Não.
13-
O Madonnaro tem esse nome em razão
dos primeiros artistas executarem cópias de Madonna – tema clássico da pintura em que se representa a Virgem
Maria. Com o passar do tempo, o Madonnaro
passou a designar tão somente uma técnica de pintura, não importando o tema.
Os artistas passaram, então, a pintar paisagens, frutas, etc. Você acha que o
Madonnaro tem espaço no meio
protestante como arte de expressão e adoração a Deus?
( ) Sim
( ) Não
|
Entendendo a imagem como uma
linguagem – uma linguagem não-verbal – pode-se dizer que a imagem fala. Dentro
desta perspectiva elaboramos a questão abaixo:
14-
“Os céus proclamam a glória de Deus e o
firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e uma
noite revela conhecimento a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras, e
deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua
voz, e as suas palavras até aos confins do mundo.” (Salmo 19.1-4) Pode-se
concluir que:
(a)-
uma imagem é capaz de “falar”.
(b)-
a imagem não diz nada.
(c)-
a realidade não é composta de imagens, ou seja, coisas visíveis.
|
Por fim, transitando pelo território
da filosofia, sondamos opiniões sobre a imagem enquanto aparência e essência.
Para tanto, questionamos:
15-
“Assim Deus criou o ser humano
semelhante à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher o criou.”
(Gênesis 1.27) O que você entende por ser criado semelhante à imagem de Deus?
(a)-
Que o Homem é uma cópia fiel de Deus.
(b)-
Que tanto o homem quanto a mulher não se parecem com Deus.
(c)-
Que o ser humano é semelhante a Deus em essência.
|
O questionário foi um importante
instrumento para o recolhimento de dados. O material foi elaborado na semana
anterior à sua aplicação, ocorrida no dia 30 de novembro de 2014, domingo pela
manhã.
Além do questionário, produzimos um Madonnaro no pátio da PIBI. Mas: o que é um Madonnaro? A técnica do Madonnaro
surgiu no século XVI, em Veneza (Itália). Trata-se de uma arte feita em locais
públicos. Naalin
a define como “(...) a antiga arte de espalhar com os dedos e a palma da mão
o giz sobre o asfalto” [15]. O giz faz com que o Madonnaro seja uma arte efêmera - pode desaparecer com a chuva ou
pelos passos apressados das pessoas. Porém, é justamente essa pouca
durabilidade que o torna tão especial. Só quem faz o Madonnaro e aquele que o vê sendo feito é que usufruem do prazer em
contemplá-lo como arte. Considerando ainda que se trata de uma técnica extremamente econômica. Os primeiros artistas madonnari utilizavam cacos de tijolos, carvão e giz para fazerem
suas pinturas sobre o chão.
O projeto de execução da obra envolveu muitas ações. Aquela primeira
exigia a definição de uma tema - ou seja, a escolha de uma imagem. Inicialmente,
a ideia era reproduzir a pintura “Natureza
morta com Bíblia e candelabro” (1885), de Van Gogh (Fig. 1) [16]
Fig. 1 – “Natureza morta com
Bíblia e candelabro” (1885), de Van Gogh
Tudo por conta da comemoração do 'Dia da Bíblia', no segundo domingo de
dezembro. Mas a ideia foi posta de lado. Foi então que me deparamos com “Jesus e
seus discípulos” (Fig. 2), de Rembrandt [17].
Apresentamos a proposta ao pastor Azair Ferreira Correa, responsável pela igreja,
e recebemos autorização para fazê-lo.
A próxima etapa foi o planejamento da ação. Tendo em mãos uma cópia da pintura de Rembrandt fizemos um levantamento cromático. Observamos que se tratava de uma obra quase monocromática, não fosse algumas áreas sutis de terra-de-siena no canto superior esquerdo, em alguns dos discípulos e nas vestes de Jesus. O trato de claro-escuro não poderia ser diferente na obra de um pintor barroco. Um recurso artístico que coloca Jesus como protagonista. E foi esse recurso que exploramos quando da execução do estudo preparatório para o Madonnaro. (Fig. 3) Abrimos mão do terra-de-siena e valorizamos o preto e branco já pensando em fazer uso do carvão vegetal e do giz branco no trabalho final.
Na noite de quarta para quinta-feira, antecedendo ao dia da produção do Madonnaro, choveu muito na cidade.
Enviamos um email ao pastor da igreja comunicando sobre a necessidade de mudar o
local da pintura. Diante daquele 'imprevisto' pensei em realizar o trabalho no
estacionamento anexo, área que possui uma cobertura. Na manhã de sábado o tempo
ainda estava nublado. O céu cinzento prenunciava a continuação das águas que
vertera na noite anterior. Mas, no domingo pela manhã, o dia se apresentava com
uma beleza ímpar. O nascer do sol anunciava um dia propício ao Madonnaro.
Fig. 2 – “Jesus e seus discípulos” (1634), Rembrandt.
A próxima etapa foi o planejamento da ação. Tendo em mãos uma cópia da pintura de Rembrandt fizemos um levantamento cromático. Observamos que se tratava de uma obra quase monocromática, não fosse algumas áreas sutis de terra-de-siena no canto superior esquerdo, em alguns dos discípulos e nas vestes de Jesus. O trato de claro-escuro não poderia ser diferente na obra de um pintor barroco. Um recurso artístico que coloca Jesus como protagonista. E foi esse recurso que exploramos quando da execução do estudo preparatório para o Madonnaro. (Fig. 3) Abrimos mão do terra-de-siena e valorizamos o preto e branco já pensando em fazer uso do carvão vegetal e do giz branco no trabalho final.
Fig. 3 – COELHO, Marcelo A. Jesus e seus discípulos, de Rembrandt (Estudo). Crayon sobre papel, 2014.
Fig. 4 – Nascer do sol...
Naquela manhã de 30 de novembro saímos de casa às 05h45 rumo à PIBI. Antes
fizemos um check-list dos materiais (Fig. 5). Chegamos lá por volta das 06h00 e às 06h07 fizemos os primeiros traços de esboço. Iniciamos o desenho pela cabeça de Cristo. À medida que delineávamos as
formas aproveitávamos para preencher as áreas de 'cor' (Fig. 6). Como
experimentado em trabalhos anteriores, o giz aderia melhor que o carvão. Neste
primeiro momento, priorizando as linhas, sentimos dificuldades em dar andamento ao
desenho. Foi então que resolvemos trabalhar por manchas - zonas de claro-escuro. Esse, inclusive, um procedimento
técnico comum aos artistas do Barroco. Somente em alguns momentos lançamos mão do
recurso linear. O trabalho fluiu melhor. Como era interessante que as pessoas
encontrassem a pintura finalizada, contando com cerca de 50% da obra original
executada, às 07h55, demos por encerrado o trabalho. A pintura ocupou uma área de
1,30m x 1,45m, totalizando 1,88m² (Fig. 7).
Com a obra exposta no pátio da
igreja passamos à etapa seguinte que foi aquela da observação e coleta de dados.
Inicialmente, apenas nos dispusemos a observar respeitando um distanciamento 'físico'. Depois nos dirigimos para perto da obra. Por volta das 09h00, quando teve início as atividades na igreja – primeiro a Escola Bíblica Dominical (EBD) e
depois o culto –, distribuímos os primeiros questionários.
Resultados:
O comportamento diante
do questionário foram os mais diversos. Uns se surpreendiam; outros se
mostraram um pouco reticentes; e tiveram ainda aqueles que pediram para
respondê-lo. Ao passo que distribuíamos as folhas com as perguntas fizemos questão de
explicar o motivo de tudo aquilo. Dissemos ser parte de um trabalho de pesquisa
para a universidade. Deixamos claro que não se tratava de uma ‘prova’; portanto,
não havia questões certas ou erradas; o que valia era as opiniões.
Houve quem respondesse
ali mesmo e também aqueles que pediram para entregar-me em outro momento. Ao
que concordei prontamente. No entanto, para recolher tais formulários foi
preciso criar alternativas. Assim, dois questionários foram 'recolhidos' via
internet, através da rede social Facebook.
Um outro questionário chegou até mim por telefone.
Estabelecemos um número de
50 cópias do questionário. Isso corresponde a pouco mais de 10% dos membros
assíduos da PIBI. Deste total, foi contabilizado:
DESCRIÇÃO
|
UNIDADES
|
PERCENTUAL
|
Total
de cópias
|
50
|
100%
|
Questionários
aplicados
|
46
|
92%
|
Questionários
não-aplicados
|
03
|
6%
|
Questionários
devolvidos
|
43
|
86%
|
Questionários
não-devolvidos
|
03
|
6%
|
Questionários
desaparecidos
|
01
|
2%
|
Com base nos
questionários foi possível obter os seguintes dados com relação ao perfil dos
entrevistados:
Faixa etária:
·
12-17 anos: 9 (18%)
·
18-34 anos: 9 (18%)
·
35-59 anos: 16 (32%)
·
60 em diante: 6 (12%)
·
Não informaram a idade: 3 (6%)
|
Sexo:
·
Masculino: 16 (32%)
·
Feminino: 16 (32%)
·
Não informaram: 11 (22%)
|
Religião:
Batista: 4 (8%)
Evangélica: 21 (42%)
Protestante: 2 (4%)
Evangélica/Batista: 1 (2%)
Cristão: 4 (8%)
Crente: 3 (6%)
Evangelho: 1 (2%)
Cristã/Batista: 1 (2%)
Cristã/Evangélica: 2 (4%)
Não informaram: 4 (8%)
|
A
maioria daqueles que aderiram à entrevista (32%) estava na faixa etária dos 35
aos 59 anos. Portanto, os adultos. Um grande número dos entrevistados não
assinalou a opção de gênero (22%). Entre os que responderam houve equilíbrio.
Embora 8% não tenham informado sua ‘religião’, por conhecermos o grupo, podemos afirmar que todos que responderam ao questionário faziam parte da instituição
PIBI. Porém, a forma de autorreferência religiosa é bastante diversificada. A
elaboração da pergunta como questão aberta permitiu tal variação. Dentre todas
as definições apresentadas, aquela dita “Evangélica” foi a mais corrente, com
42% de ocorrência.
Quanto aos hábitos culturais os
resultados foram os seguintes:
·
Tem costume de
frequentar museus, espaços culturais, centros culturais ou casas de cultura?
Sim-
4 (8%) Não- 14 (28%) Às vezes- 24 (48%) Não respondeu: 1 (2%)
·
Pratica alguma
atividade artística?
Música-
19 (38%) Teatro- 2 (4%) Pintura- 1 (2%) Desenho- 3 (6%) Escultura- 0 (0%) Literatura- 8 (16%) Outra: Capoeira (2%)
Nenhuma:
9 (18%)
Não
informaram: 7 (14%)
|
Quase metade do número
de abordados (48%) diz ter o costume esporádico de freqüentar museus e outras
instituições culturais. Por outro lado, uma porcentagem bastante reduzida (8%)
realiza programas culturais com frequência naqueles locais específicos. Vale
lembrar que as opções foram pensadas tendo em mente o contexto de exposições.
Quanto à produção artística houve quem marcasse mais de uma opção. A música,
tradicional no meio evangélico, foi aquela atividade artística mais praticada,
com 38% de sinalizações. Uma das respostas (2%) apontou a Capoeira como forma
de arte. Entre aqueles que não praticam nenhuma arte ou não informaram, o
número é de 16 entrevistados, ou seja, 32%.
Em
seguida, introduzimos duas questões diretas no questionário. Ambas abordando o
tema da pintura no contexto cristão. Interessante que algumas pessoas
assinalaram que a pintura não tem espaço na Igreja, mas não a consideram
idolatria. Aliás, a maioria absoluta não considera a pintura como idolatria. Eis
os resultados:
·
A Pintura tem espaço na Igreja?
Sim-
37 (74%) Não- 5 (10%) Não responderam: 1 (2%)
·
Pintura é idolatria?
Sim- 0 (0%) Não- 43 (100%)
|
Na
questão formulada com base na Criação Divina remontando à criação artística
como forma de produção de imagens, 70% dos entrevistados apontaram que Deus
“organizou o mundo a partir de ‘imagens’, de ‘coisas visíveis’.” Alguém
acrescentou às respostas: “Por sua
própria imagem”. Outro, referindo-se a uma das respostas, confessou: “Na verdade, eu não escolheria nenhuma das
opções, mas se tiver que escolher fico com essa. kk” (via Facebook).
(a)-
organizou o mundo a partir de “imagens”, “coisas visíveis”: 35 (70%)
(b)-
ao criar o mundo estimulou a idolatria: 1 (2%)
(c)-
não criou o mundo: 2 (4%)
Não
responderam: 5 (10%)
|
Quando a proposta era
perceber a função pedagógica de imagem, os entrevistados responderam:
(a)-
a imagem serve apenas à publicidade: 0 (0%)
(b)-
Deus aprova a adoração de imagens: 0 (0%)
(c)-
a Imagem (obra de arte) pode ser um valioso meio de reflexão: 42 (84%)
Não
respondeu: 1 (2%)
|
Na questão de número 10
a ideia era, nas entrelinhas, saber como as pessoas percebiam, ainda que
inconscientemente, a possibilidade de 'significado' e 'significante' existirem
em interdependência. Para tanto recorremos ao que escreveu o apóstolo Paulo, à
Igreja de Colossos, quando disse: “Ele
(Jesus) é a imagem do Deus invisível, o
primogênito de toda a criação; (...)” (Colossenses 1.15). Com base na
afirmação de Paulo:
(a)-
Jesus não é Deus: 0 (0%)
(b)-
Jesus é Deus manifesto visivelmente como uma “imagem” real: 40 (80%)
(c)-
Deus aprova a idolatria: 1 (2%)
Não
responderam: 2 (4%)
|
Recorrendo ao texto
bíblico clássico sobre idolatria, no evento dos Dez Mandamentos (Êxodo 20.4-5),
foi proposto assinalar uma das respostas que melhor expressava a própria opinião. As pessoas opinaram da seguinte maneira:
(a)-
não é permitido fazer arte na Igreja: 1 (2%)
(b)-
Deus condena a adoração de imagens: 38 (76%)
(c)-
apenas as esculturas são proibidas de serem produzidas: 2 (4%)
Não
responderam: 2 (4%)
|
Naquelas questões sobre
o Madonnaro, objetivou-se saber sobre
o que é arte e se essa técnica de arte teria espaço no meio protestante. É
claro que no corpo da questão estavam inseridas informações históricas sobre o Madonnaro. Houve quem não entendesse o
Madonnaro como forma de arte, mas o via como forma de expressão e adoração a
Deus. Abaixo segue o resultado:
·
(...) você considera o Madonnaro uma forma de arte?
Sim-
40 (80%) Não- 2 (4%) Não respondeu: 1 (2%)
·
Você acha que o Madonnaro tem espaço no meio protestante como arte de expressão e
adoração a Deus?
Sim-
38 (76%) Não- 3 (6%) Não responderam: 2 (4%)
|
A questão 14 tratou da
imagem, enquanto Criação, como linguagem de discurso silencioso, ou seja,
não-verbal. Um dos entrevistados escreveu ao lado da opção escolhida: “– Pelo menos para mim seria”,
manifestando toda a sua subjetividade. De acordo com as opções oferecidas os
entrevistados optaram:
(a)-
uma imagem é capaz de “falar”: 28 (56%)
(b)-
a imagem não diz nada: 1 (2%)
(c)-
a realidade não é composta de imagens, ou seja, coisas visíveis: 13 (26%)
|
Por último, foi
perguntado: O que você entende por ser criado semelhante à imagem de Deus?
(a)-
Que o Homem é uma cópia fiel de Deus: 9 (18%)
(b)-
Que tanto o homem quanto a mulher não se parecem com Deus: 2 (4%)
(c)-
Que o ser humano é semelhante a Deus em essência: 32 (64%)
|
Conclusão:
A pesquisa forneceu
informações importantes quanto ao modo como os cristãos da Primeira Igreja
Batista em Itaguaí lidam com a imagem. Foi possível quantificar dados que
poderão permitir ações que possibilitem reflexões não somente sobre a relação
com a imagem. Dentro do objetivo principal do trabalho de campo conclui-se que
o fator subjetivo pode interferir bastante nas relações construídas, seja para
o bem quanto para o mal, sob o olhar do pesquisador ou debaixo do ponto de
visto do Outro.
Uma das dificuldades
foi manter o distanciamento necessário para o desenvolvimento da pesquisa. Não
foi fácil observar o próprio grupo. O sentimento e a emoção são, segundo
Lévi-Strauss, “(...) os hóspedes não
convidados da situação etnográfica”[18].
Esses elementos permeiam a relação etnográfica. Vivenciamos isso com intensidade.
Uma amiga publicou imagens no Facebook,
uma rede social na internet, sobre o trabalho [19].
Logo apareceram os primeiros comentários. Lendo-os foi possível reconhecer um
certo discurso afetivo. Principalmente por parte daquelas pessoas que nos viram
crescer ali naquela igreja. Por telefone fui informado de uma senhora, que já fez
parte da PIBI e hoje reside na cidade do Rio de Janeiro, dizer que ficou
encantada com o Madonnaro visto
através da internet: “– Deu vontade de chorar!”, confessou a senhora. Sobre
esse confronto com a afetividade conforta o que disse Damatta: “(...) a Antropologia Social é uma
disciplina da comutação e da mediação” [20].
Ela faz ligação entre mundos diferentes. Ligação estabelecida não sobre bases
puramente institucionais ou por meio de instrumentos de mediação. Antes
considera, para além disso, o contato humano e suas ‘flutuações’.
Essa fronteira afetiva
fez sobressair aquele que é o sentimento primordial na relação com a arte: a
emoção. Sentimento este que surge a partir da contemplação. Através das
estratégias adotadas para o trabalho de campo foi possível aferir que os indivíduos
que fazem parte da comunidade da Primeira Igreja Batista em Itaguaí mantém uma
relação de prazer estético com a imagem. Não existe a relação de idolatria
entendida como “culto prestado ao que não
é Deus” [21]
ou “(...) adoração de imagens e esculturas, proibida pelo segundo mandamento
da Lei de Deus” [22].
O Madonnaro, com sua efemeridade, ofereceu condições ideais para se pensar
a questão da imagem e suas ‘consequências’. Por isso a preocupação com sua
preservação. A zeladora da igreja, enquanto produzia a obra, logo cogitou de
providenciar duas 'plantinhas' para impedir que pisassem na pintura. Outro
comentou: “– Tem que tomar cuidado para as pessoas não pisarem. Vem
distraído...”. Uma senhora fez questão de avisar: “– Agora não apaga!”, disse
ela mostrando-nos sua máquina fotográfica.
Inúmeros foram aqueles
que o viram como obra de arte. Perguntaram sobre a materialidade e a referência
utilizada na produção do Madonnaro. A
observação apontou que questões técnicas e interpretativas podem influenciar na
apreciação da obra de arte. Houve quem admirasse o ‘relevo’ da pintura, ao
referir-se à sensação de volume, e ao mesmo tempo enxergasse uma pedra onde
eram as vestes de Jesus. Quem sabe aqui cabe uma discussão sobre significado e
significante?
O perene e o efêmero...
O que fica e o que se esvai na relação com a imagem? Através do Madonnaro foi possível refletir sobre
isso. Toda aquela ação que envolveu a produção e a exposição do Madonnaro se transformou em memória. A
obra já não existe mais. O que importa é a imagem ou sua essência? Platão
entendeu a arte como um instrumento de poder e influência. A partir do momento
em que não se pode questionar a arte, o perigo da manipulação se faz crescente.
O filósofo grego cria que para ser bela a imagem acabava por mascarar a realidade. Foi
quando Platão apresentou a sua teoria sobre a arte: a Mimese [23].
Para Platão o poeta produz algo por meio da imitação. A imitação era uma
maneira de mascarar a realidade por meio de um falso realismo. Cabe aqui um
exemplo clássico: conta-se que o pintor Zêuxis concebeu cachos de uvas tão
perfeitos que pássaros vieram dar bicadas nas frutas [24].
Mais contemporaneamente,
questionando a atitude idólatra para com as imagens, Flusser alerta:
“O caráter aparentemente não-simbólico, objetivo, das imagens técnicas
faz com que seu observador as olhe como se fossem janelas e não imagens. O
observador confia nas imagens técnicas tanto quanto confia em seus próprios
olhos. Quando critica as imagens técnicas (se é que as critica), não o faz
enquanto imagens, mas enquanto visões do mundo. Essa atitude do observador face
às imagens técnicas caracteriza a situação atual, onde as imagens se preparam
para eliminar textos. Algo que apresente conseqüências altamente perigosas” [25].
Apesar de todas as
dificuldades para o mapeamento da relação com a imagem no contexto da Primeira
Igreja Batista em Itaguaí, o trabalho de campo foi bastante interessante e
enriquecedor. Lembramos aqui que Velho vê o contexto familiar como vantajoso à pesquisa, uma vez
que, permanecendo ali o antropólogo, existe chance de discussão e
enriquecimento dos resultados.
“De qualquer
forma o familiar, com todas essas
necessárias relativizações é cada vez mais objeto relevante de investigação
para uma Antropologia preocupada em perceber a mudança social não apenas ao
nível das grandes transformações históricas mas como resultado acumulado e
progressivo de decisões e interações cotidianas” [26].
E assim foi a pesquisa
de campo realizada na Primeira Igreja Batista de Itaguaí, à Rua Nilo Peçanha,
146 – Centro – Itaguaí (RJ).
NOTAS:
[1] - A pintura de batistérios é uma tradição no meio cristão. Desde os primeiros prédios dessa natureza, erguidos já por volta dos séculos III a V d.C, é costume esse tipo de pintura dita parietal. Aquelas primeiras pinturas eram feitas em afresco e traziam a cena do batismo de Jesus. As igrejas protestantes batistas cultivaram este hábito. Aquelas que não realizam os batismos diretamente nos rios possuem um espaço (espécie de piscina, tanque) onde realizam o rito. Ali, ao fundo, é pintada uma paisagem em que o rio se “abre” na proporção do tanque. Busca-se fazer com que o público tenha a ilusão da cerimônia estar ocorrendo num rio de verdade.
[1] - A pintura de batistérios é uma tradição no meio cristão. Desde os primeiros prédios dessa natureza, erguidos já por volta dos séculos III a V d.C, é costume esse tipo de pintura dita parietal. Aquelas primeiras pinturas eram feitas em afresco e traziam a cena do batismo de Jesus. As igrejas protestantes batistas cultivaram este hábito. Aquelas que não realizam os batismos diretamente nos rios possuem um espaço (espécie de piscina, tanque) onde realizam o rito. Ali, ao fundo, é pintada uma paisagem em que o rio se “abre” na proporção do tanque. Busca-se fazer com que o público tenha a ilusão da cerimônia estar ocorrendo num rio de verdade.
[2] - Rosto de Jesus. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=EPRBKmqDEuQ>. Acesso em 02 de dezembro de 2014 (vídeo).
[3] - Portal IgrejadeItaguaí. Quem
somos. In: <http://www.igrejadeitaguai.org/quem-somos/>. Acesso em 02 de dezembro 2014 .
[4] - VELHO, Gilberto. Observando o Familiar.
In.: NUNES, Edson (org.). A Aventura Sociológica. Rio de Janeiro: Zahar,
1978.
[5] - DAMATTA apud VELHO, 1978, p. 37.
[6] - O Madonnaro é uma técnica de pintura executada diretamente no chão surgida na Itália, em pleno século XVI.
[7] - COELHO, Marcelo Amaral. Imagem
em Ação. Trabalho feito em cumprimento às exigências da disciplina de Filosofia
da Arte, do Curso de Licenciatura em Belas Artes, da Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro (UFRRJ), 2011.
[8] - FLUSSER,
Vilém. A Filosofia da Caixa Preta –
Ensaios para uma futura filosofia da fotografia. São Paulo: Hucitec, 1985.
[9] - A Bíblia Vida Nova. Editor resp. Russell P.
Shedd; trad. em português João Ferreira de Almeida. Ed. rev. e atual. no Brasil.
S. Paulo: Vida Nova; Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.
[10] - FRANCIA, Ennio. Storia dell'Arte Paleocristiana. Milano: Aldo Martello Editore.
[11] - VELHO,
Gilberto. Observando o Familiar. In.: NUNES, Edson
(org.). A Aventura Sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
[12]
- DAMATTA, Roberto. O
Ofício de Etnólogo, ou como Ter “Anthropological Blues”. In.: NUNES, Edson
(org.). A Aventura Sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
[13] - Técnica da observação
participante: “O observador, enquanto
parte do contexto de observação, estabelece uma relação face a face com os
observados.” (DESLANDES; NETO; GOMES, s.d, p. 59)
[14] - DESLANDES; NETO; GOMES, s.d,
p. 58.
[15] - NAALIN, 2000, p. 34.
[16] - GOGH, Van. Natureza morta com Bíblia e candelabro (1885). Óleo sobre tela, 65 x 78 cm. Museo Van Gogh, Amsterdã (Holanda).” Disponível em: <http://pinturasimporesionistas.blogspot.com.br/2013/07/naturaleza-muerta-con-biblia-y_21.html>. Acesso em: 15 de novembro de 2014.
[17] - FRANCQ, Isabelle . Rembrandt e sua relação com Cristo. Disponível em: <http://www.unisinos.br/blogs/ihu/geral/rembrandt-e-sua-relacao-com-cristo/>. Acesso em: 28 de novembro de 2014.
[18] - DAMATTA, 1978, p. 30.
[20] - DAMATTA, 1978, p. 27.
[21] - DICIONÁRIO DO AURÉLIO.
[22] - AULETE DIGITAL.
[23] - COELHO, 2011.
[24] - “Pintou Zeuxis huns cachos de uvas tanto ao natural, que voaraõ (sic) huns pássaros a quererem picar nellas.” (MORAES, 1761, p. 64)
[25] - FLUSSER apud COELHO, 2011.
[26] - VELHO, 1978, p. 46.
REFERÊNCIAS:
YOUTUBE. Rosto de Jesus. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=EPRBKmqDEuQ>. Acesso em: 30 de novembro de 2014 (Vídeo).
REFERÊNCIAS:
A
Bíblia Vida Nova. Editor resp. Russell P. Shedd; trad. em português João
Ferreira de Almeida. Ed. rev. e atual. no Brasil. S. Paulo: Vida Nova;
Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.
AULETE DIGITAL. Idolatria. Disponível em: <http://www.aulete.com.br/idolatria>. Acesso em: 27 de novembro de 2014.
COELHO,
Marcelo Amaral. Imagem em Ação. Trabalho feito em cumprimento às exigências da
disciplina de Filosofia da Arte, do Curso de Licenciatura em Belas Artes, da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), 2011.
DAMATTA, Roberto. O Ofício de Etnólogo, ou como
Ter “Anthropological Blues”. In.: NUNES, Edson (org.). A Aventura
Sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
DESLANDES, Suely F.; NETO, Otávio Cruz; GOMES, Romeu. A entrevista
enquanto técnica. In: ________. Pesquisa
Social – Teoria, método e criatividade. 14ª Ed. Petrópolis: Vozes, s.d. Coleção
Temas Sociais.
DICIONÁRIO DO AURÉLIO. Idolatria. Disponível em: <http://www.dicionariodoaurelio.com/idolatria>. Acesso em: 27 de novembro de 2014.
FRANCIA, Ennio. Storia dell'Arte
Paleocristiana. Milano: Aldo Martello Editore.
FRANCQ, Isabelle. Jesus e seus discípulos segundo
Rembrandt. 15 de maio de 2011. (O texto é
de Isabelle Francq e publicado pela revista francesa La Vie, 21-04-2011). Disponível
em: <http://www.unisinos.br/blogs/ihu/geral/rembrandt-e-sua-relacao-com-cristo/>. Acesso em: 28 de novembro de 2014.
MORAES, Pedro José Suppico. Moral. Officina de Francisco
de Oliveyra: Coimbra (Portugal), 1761.
NAALIN, Felice. L'arte
dei madonnari. Le tecniche. Del segno e del colore. Giunti Demetra, 2000.
PORTAL IGEJADEITAGUAÍ. Quem somos. Disponível em: <http://www.igrejadeitaguai.org/quem-somos/>. Acesso em:
02 de dezembro de 2014.
TAMARA, Mercedes. Naturaleza
muerta com Biblia y candelabro Vincent van Gogh. 21 de julho de 2013. Disponível em: <http://pinturasimporesionistas.blogspot.com.br/2013/07/naturaleza-muerta-con-biblia-y_21.html>. Acesso em: 15 de novembro de 2014.
VELHO, Gilberto. Observando o Familiar. In.:
NUNES, Edson (org.). A Aventura Sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
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