domingo, 19 de maio de 2019

MARIA DE LOURDES PARREIRAS HORTA: Educação Patrimonial no Arquivo Nacional

O link abaixo remete à página do Arquivo Nacional, no Facebook, onde é possível assistir a gravação da palestra de Maria de Lourdes Parreiras Horta sobre a "Lição das coisas - uma interação produtiva entre a educação e o patrimônio", dentro da 17ª Semana de Museus. Como parte do evento nacional e integrante da programação interna (Arquivo em prosa), o Arquivo Nacional, no centro do Rio, resolveu falar sobre Educação Patrimonial. Segue o link: https://www.facebook.com/arquivonacionalbrasil/videos/1004574706399880/?eid=ARB_uBcPnZkJxfffVAOZmKnD0aDRA_APt4W0njfLedmwkNDp7YTqifzqThtzJ_NNDr2msPSxtzRvkWT

sábado, 11 de maio de 2019

O MADONNARO COMO SUPORTE PEDAGÓGICO PARA ALÉM DA ARTE


Este resumo (1) por objetivo apresentar o Madonnaro como instrumento pedagógico e sua exploração em sala de aula como recurso para pensar questões além da arte. Essa exploração teria origem na percepção de repensar a prática de sala de aula a partir da vivência como professor de artes visuais. O que é o Madonnaro? Transcorria o século XVI quando mendicantes resolvem, reproduzir imagens da Madonna pelo chão durante as festividades em honra da Mãe de Jesus. Daí o nome ‘Madonnaro’ para a prática e ‘madonnaro’ para classificar aqueles reproduziam tais imagens. Aproveitando o contexto religioso, mercantil e cosmopolita de Veneza aqueles mendicantes conseguiam uns trocados para sua sobrevivência. Para a execução daquelas imagens efêmeras, os mendicantes lançavam mão de cacos de tijolos, carvão, gesso e alguma terra colorida. Materiais estes que podiam ser encontrados pelo caminho. Surgia assim, a prática do Madonnaro (NALIN, 1982; NAALIN, 2000; COELHO, 2015). A metodologia a ser explorada no trabalho foi aquela da leitura de referências teóricas e fontes documentais, além da observação participante (VELHO, 1978). Algumas experiências de sala de aula serão relatadas. Acredita-se que um trabalho nesse sentido venha a servir de referência para futuras pesquisas e ações na área de educação, especificamente – mas não unicamente – em artes visuais, contribuindo assim, de maneira freiriana, no diálogo com outras áreas e campos do conhecimento, para a transformação suporte – mundo – em existência – vida (FREIRE, 1996). Possibilitando que a vida deixe de ser biologia para se fazer biografia (FIORI in FREIRE, 1987).



REFERÊNCIAS:

COELHO, Marcelo A. Madonnaro: gênero, técnica e linguagem pictórica. Monografia de Graduação em Licenciatura em Belas Artes, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica (RJ), 2015.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários à prática educativa. 25ª Ed. São Paulo (SP): Paz e Terra, 1996.
________. Pedagogia do Oprimido. 17ª Ed. Rio de Janeiro (RJ): Paz e Terra, 1987.
NAALIN, Felice. L'arte dei madonnari. Le tecniche. Del segno e del colore. Milano (Itália): Giunti Demetra, 2000.
NALIN, Felice. I Madonnari. Annunciatori di anziane storie. Verona (Itália): Edizioni MG, 1982.
VELHO, Gilberto. “Observando o Familiar”. In: NUNES, Edson (org). A Aventura Sociológica. Rio de Janeiro (RJ): Zahar, 1978.


1. Resumo enviado e aprovado ao XVI Seminário Discente PPCIS/UERJ 2018.

segunda-feira, 6 de maio de 2019

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL EM MANGARATIBA: seu lugar no currículo


Hoje aconteceu o segundo colegiado de Arte da rede municipal de Mangaratiba com vistas a ajustar a proposta curricular ao que prevê a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A reunião se deu no CIEP Brizolão 294 Candido Jorge Capixaba, na Praia do Saco. Como recomenda o documento oficial, aproveitando as aulas com o 8º ano, momentos antes de iniciar o colegiado, propus uma reflexão quanto ao que previa a proposta curricular. Dispus os objetos de conhecimento e os objetivos de aprendizagem no quadro e depois fomos lendo e comentando ponto por ponto. A proposta previa para o segundo bimestre com as turmas de 8º ano os seguintes objetos de conhecimento: Cor luz e cor pigmento: análogas, complementares e isocromia; Romantismo; Ritmo; Movimentos musicais urbanos; e Marchinhas.
Foi comentando sobre o Romantismo como sinônimo de “morrer de amores pela terra natal” que provoquei os alunos sobre como eles apresentariam a cidade de Mangaratiba a quem é de fora. Os alunos que se dispuseram a falar responderam: “Não venha para Mangaratiba!”. Ressaltaram problemas como a insegurança e a poluição. Reparei que nenhum deles disse dos patrimônios culturais da cidade. O Solar Barão do Sahy, a Fundação Mário Peixoto, a igreja de N. S. da Guia e outros patrimônios mangaratibenses não foram citados. Conclusão: os alunos não conheciam seu próprio território e cultura.
Foi quando aproveitei para um panorama sobre alguns desses bens culturais e a possibilidade de explorá-los cognitivamente e também como fonte de renda. Disse de como eles poderiam atrair pessoas para conhecer esses patrimônios culturais e o quanto isso poderia gerar receita econômica para o município e para as famílias. Incentivei-os a reconhecer a sua ‘terra’ como sinônimo de identidade e pensar uma atuação social para tentar reverter as situações que eles mesmos relataram como sendo problemas.
A partir disso foi sugerido por mim de acrescentar a Educação Patrimonial aos objetos de conhecimento do segundo bimestre. Na verdade, realizar uma ‘transferência’ já que o tema constava no terceiro bimestre. Os alunos concordaram. Então, a sugestão foi levado ao colegiado que também aprovou a ‘transferência’. Assim, nesse segundo bimestre, na rede municipal de Mangaratiba, no 8º ano do ensino fundamental, a Educação Patrimonial será alvo de debates, discussões, contextualizações e outras possibilidades de exploração pedagógica. Melhor: na medida do possível, uma decisão tomada a partir do diálogo entre aqueles que habitam o universo escolar.

domingo, 5 de maio de 2019

OS HOMENS-MEMÓRIA FAZENDO DIFERENÇA NA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

(Texto originalmente apresentado a uma turma de 7º ano, do Instituto Educacional Zion, em Itaguaí (RJ), no ano de 2018). 

Uma reflexão quanto aos homens memórias implica pensar a definição das palavras. A palavra “Homem” vem dimensionada no Webster’s Dictionary 1828 como: (s.m.) 1. humanidade; a raça humana; toda a espécie de seres humanos; seres distinguidos de todos os outros animais pelos poderes da razão e da fala, bem como pela sua forma e aspecto digno; 2. Um indivíduo do sexo masculino da raça humana; 3. Um macho da raça humana; usado frequentemente em palavras compostas, ou na natureza de um adjetivo; como um homem-criança; homens cozinheiros; homens-servos”.

Cabe ressaltar que a definição nº 3 parece aquela que melhor se adapta ao conceito de homem abordado neste texto. A palavra “Homem” vem composta de outra que mais que lhe conferir uma ‘qualidade’ pode expressar sua ‘identidade social’, seu vínculo com o grupo.

Por sua vez, o substantivo feminino ‘Memória’da raiz grega ‘mente’ significa “a faculdade da mente pela qual ela retém o conhecimento de eventos passados, ou de ideias passadas” (WEBSTER 1828 BRASIL). No caso, o termo ‘retém’ é mais que guardar para si mesmo; pode ser entendido como conservar para compartilhar. A memória, primeiro até pode ser individual, mas se ela não for socializada, morre como uma vaga lembrança. Eis o que escreveu Jacques Le Goff (1990, p. 477): “A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma a que a memória sirva para a libertação e não para a servidão dos homens”.

Assim sendo, vale a pena raciocinar sobre os homens-memória. Esses homens eram um patrimônio cultural das sociedades da oralidade: Nestas sociedades sem escrita há especialistas da memória, homens-memória: “genealogistas”, guardiões dos códices reais, historiadores da corte, “tradicionalistas”, dos quais Balandier [...] diz que são “a memória da sociedade” e que são simultaneamente os depositários da história “objetiva” e da história “ideológica”, para retomar o vocabulário de Nadel (LE GOFF, 1990, p. 429).

Os homens memórias eram ‘responsáveis’ por compartilhar com as novas gerações os tesouros culturais do passado. Preservando assim a vida em sua dimensão social, cultural, espiritual e até mesmo fisiológica. Na maioria das vezes os homens memórias eram idosos que, pela longa estrada de vida, eram detentores dos conhecimentos referentes ao grupo do qual fazia parte. Leroi-Gourhan (LE GOFF, 1990, p. 429), dentre outros, reconhece os idosos como personagens “na humanidade tradicional, o importantíssimo papel de manter a coesão do grupo”.

Na Bíblia a velhice aparece representada de maneira poética na metáfora dos cabelos brancos (Prov. 16.31; Sal. 71.18; Is. 46.4; Dn 7.9; Jó 15.10). O respeito foi requerido por Moisés aos homens memória quando escreveu: “Fiquem de pé na presença das pessoas idosas e as tratem com todo o respeito” (Lv 19.32 apud ULTIMATO, 1999). O ‘sofrido’ Jó (8.8) dá uma dica: “Indaga às gerações passadas, e considera o aprendizado que seus pais acumularam”. A todo o momento, na Bíblia, é estimulada a valorização dos homens-memória por meio da interação respeitosa, educativa e dialógica.

Em A República, Platão escreve uma experiência entre Sócrates e Céfalo, pai de Polemarco. Ao visitar aquele idoso Sócrates ouviu dele o pedido de aparecer mais vezes já que não podia mais se locomover com facilidade e circular pela cidade: “Ó Sócrates, tu vens muito raramente ao Pireu para nos visitar. Mas devias fazê-lo mais vezes, (...). Fica sabendo bem: à medida que vão murchando para mim os prazeres físicos, nessa mesma aumentam o desejo e o prazer da conversa” (PLATÃO, 2005, p. 08). Naturalmente essas conversas figuram reminiscências de fatos passados.

Então, Sócrates destaca a riqueza dessa conversa: “Certamente, ó Céfalo – disse eu –, pois é para mim um prazer conversar com pessoas mais velhas. Efetivamente, parece-me que devemos informar-nos junto delas, como de pessoas que foram à nossa frente num caminho que talvez tenhamos de percorrer, sobre as suas características, se é áspero e difícil, ou fácil e transitável” (PLATÃO, 2005, p. 08). A partir daí iniciam um fecundo bate-papo sobre a vida e a velhice...


Os homens-memória estão relacionados ao patrimônio cultural por serem detentores de significados culturais que outras formas de ‘transmissão’ como a escrita, a Imprensa, a mídia eletrônica e a internet não foram nem são capazes de fazê-lo. A existência dos homens-memória se justifica pela interação social: são adiantados em idade, mas estão vivos; se estão vivos necessitam, podem e têm direito a se relacionar com o outro. Sem os relacionamentos interpessoais não há compartilhamento e apropriação do patrimônio cultural. Daí que a aprendizagem de competências e princípios como o respeito, o diálogo, o caráter e tantos outros podem fazer a diferença nessa ‘modalidade’ de Educação Patrimonial.


REFERÊNCIAS:
BÍBLION. Velhice na Bíblia. Disponível em: <https://www.bibliaon.com/velhice/>. Acesso em: 24 de outubro de 2018.
LE GOFF, Jacques. Memória. In: _______. História e memória. Trad. Bernardo Leitão... [et al.]. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1990, p. 423-483.
PLATÃO. Sócrates. In: ________. A República. Trad. Heloisa da Graça Burati. São Paulo (SP): Rideel, 2005, p. 07-36.
ULTIMATO. A Bíblia e o idoso. Revista Ultimato, Viçosa (MG), Ed. 259, Julho-Agosto, 1999. Disponível em: <https://www.ultimato.com.br/revista/artigos/259/a-biblia-e-o-idoso>. Acesso em: 24 de outubro de 2018.
WEBSTER 1828 BRASIL. Disponível em: <http://www.dicionario1828.com/>. Acesso em: 24 de outubro de 2018.
WEBSTER’s DICTIONARY 1828. Disponível em: <http://webstersdictionary1828.com/>. Acesso em: 24 de outubro de 2018.

quarta-feira, 1 de maio de 2019

FAMÍLIA: um patrimônio cultural vivo

“Non c’è nulla di più bello che vedere una famiglia seduta a tavola, tra gioia e risate . . .”. Assim escreveu o poeta C.S. Lewis citado por Samra (2019). Traduzindo, o poeta irlandês disse: "Não há nada mais belo que ver uma família sentada à mesa, entre alegrias e risadas...". Nesse pequeno comentário é possível identificar uma metodologia de educação informal que vai refletir na educação formal: o riso como ação educativa para as relações interpessoais. Mais: isso é ainda Educação Patrimonial! 

Horta et al. (1999), no Guia Básico de Educação Patrimonial, entende as relações interpessoais como "patrimônio vivo". Nessas relações estão a culinária, os modos de falar e fazer, etc. Coisas estas presentes à mesa. Dentro desse conceito de patrimônio vivo, Grunberg (2007) sustenta ser a vida o primeiro patrimônio cultural que temos. Não há vida sem família! Então, preservar esse patrimônio cultural é investir no diálogo. No diálogo se dão as ações de Educação Patrimonial para a manutenção, esquecimento e inovações das práticas culturais.

REFERÊNCIAS:
GRUNBERG, Evelina. Manual de atividades práticas de educação patrimonial. Brasília, DF: IPHAN, 2007.

HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia básico de educação patrimonial. Petrópolis: Museu Imperial- DEPROM; Brasília: IPHAN/MinC, 1999. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/temp/guia_educacao_patrimonial.pdf.pdf>. Acesso em: 20 de junho de 2017. 

SAMRA, Lisa M. Ricette Bibliche. 2019. Disponível em: <https://ilnostropanequotidiano.org/2019/05/01/ricette-bibliche/>. Acesso em: 01 de maio de 2019.