Turma 801
Turma 901
A aula-oficina foi realizada com alunos do 8º e 9º anos do Colégio
Wanderley Menezes, em Itaguaí (RJ), no dia 19 de novembro de 2014. Atuo nesta
escola como professor de Arte. Nesta ocasião fui chamado a substituir a
professora de matemática em razão de um imprevisto. Embora os alunos tenham
demonstrado resistência no início – esperavam não ter aula naquele dia – ao
final estavam bastante satisfeitos com a atividade. A atividade se deu dentro do horário das aulas.
Com os alunos da turma 801 – 8º ano
– fiz uma breve apresentação da proposta da aula-oficina. Distribui um texto
para ser lido em casa enriquecido com mais informações. Explanei
sobre o conteúdo dos triângulos e relacionei com a arte de Décio Vieira e o Concretismo. Os alunos, então, realizaram os
estudos preparatórios para a execução do Madonnaro.
Em seguida, fomos para o pátio a executar a obra sobre o chão. Com o auxílio de
uma vassoura como régua dividi os espaços sendo um retângulo de cerca de 70 x
60 cm para cada aluno. Organizei os espaços em duas fileiras de forma que os
alunos ficaram de frente um para o outro. Os triângulos foram
traçados à mão livre com giz branco. Apenas um aluno utilizou a régua.
Finalizada a composição linear os alunos fizeram uso do giz colorido (verde,
azul, amarelo, branco e laranja) para acrescentar cor à pintura.
Durante a execução dos madonnari fui
aos alunos perguntando sobre a identificação de alguns triângulos. Terminada a
pintura nos dirigimos para a sala de aula. Deixei aberto para comentários. Um
aluno disse: “Não deixamos de estudar
geometria.” Outro exclamou: “Faltou
um terreno mais plano.”
Com o 9º ano – turma 901 – a rejeição foi mais efetiva. A aula foi
pouco empolgante. Talvez pelo fato da aula-oficina acontecer nos dois últimos
tempos, quando imaginavam poder ir para casa, tenha contribuído para tal
rejeição inicial. Demonstraram pouco interesse em participar da aula-oficina.
Principalmente durante a parte teórica. Aqui também distribui o texto. Comentei
sobre o motivo de estar ali e ainda sobre o conteúdo da aula-oficina. Contextualizei
conteúdo dos triângulos fazendo uma ligação com o artista Décio Vieira e o
Concretismo. Resolvi fazer diferente do método adotado com a 801 e sugeri um
trabalho em conjunto. A turma era pequena. Naquela aula estavam presentes
apenas seis alunos_ no total a turma possui oito alunos. Então, eles se
reuniram e realizaram um estudo preparatório. O interessante foi que
‘construíram’ a obra a partir do acréscimo formal (figuras triangulares). Não
havendo, inicialmente, uma demarcação geral (configuração). Na sequência fomos
para o pátio da escola. Ali, novamente fazendo uso da vassoura, tracei um único
retângulo de mais ou menos 1,20 x 70 cm. Um aluno realizou a composição linear
e os outros executaram a etapa pictórica. Cabe destacar que acrescentaram mais
triângulos quando da etapa linear alterando o estudo/referência. Durante a
execução questionei sobre a classificação dos triângulos presentes na obra. Uns
optaram por não responder; uma aluna errou
a resposta; e apenas um aluno classificou corretamente o triângulo escolhido.
Finalizado o Madonnaro voltamos para
a sala. Deixei aberto para comentários. Ninguém quis falar.
Novamente comentei e associei a criação do Grupo Frente ao Salão Preto e Branco,
estudado como conteúdo do 4º bimestre em Arte, sendo ambos organizados no ano
de 1954.
Espera-se que os participantes tenham percebido a possibilidade de
explorar os aspectos formais do triângulo como elemento de expressão artística.
Não somente isso, mas também que atentem ao conteúdo histórico presente na
proposta da aula-oficina. Podendo, dessa maneira, apreender conhecimento
cultural por meio da obra do pintor Décio Vieira e sua relação com o
Concretismo. Acredita-se que isso possa contribuir para a reafirmação de
identidade. Assim também, espera-se que o contato com outra realidade cultural
como aquela do Madonnaro possa ter
proporcionado experiências de trocas culturais. A opção interdisciplinar que
caracterizou a aula-oficina se firmou na definição de educação para o futuro
proposta por Morin, baseada
no paradoxo entre as especializações e o conhecimento multidisciplinar,
transversal, etc.[1] A
especialização só faz sentido quando é parte de um todo. Do contrário, institui
a cruel solidão. Com tudo isso, se quis propor ao participante a
conscientização de sua autonomia.[2]
Oferecendo-lhe condições que pudessem contribuir no embate contra o Imprinting cultural, termo cunhado por Konrad Lorenz, que é uma espécie de “(...)
marca matricial que inscreve o conformismo a fundo, e a normalização que
elimina o que poderia contestá-lo. (…) desde o nascimento, primeiro com o selo
da cultura familiar, da escolar em seguida, depois prossegue na universidade ou
na vida profissional.”[3]
Somente então a inevitável globalização
não terá aquele aspecto reducionista sobre o indivíduo.
[1] - MORIN, Edgar. Os sete saberes
necessários à educação do futuro. Trad. Catarina Eleonora F. Da Silva e
Jeanne Sawaya; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. 2ª Ed. S. Paulo:
Cortez; Brasília: UNESCO, 2000, p. 36.
[2] - Este um conceito muito
explorado por Paulo Freire para combater todas as práticas de desumanização em FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia_ Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. Coleção Leitura. 25ª Ed.
[3] - MORIN, 2000, p. 28