sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Percebendo o triângulo como elemento de expressão artística na obra de Décio Vieira através da prática Madonnaro

Turma 801

Turma 901

A aula-oficina foi realizada com alunos do 8º e 9º anos do Colégio Wanderley Menezes, em Itaguaí (RJ), no dia 19 de novembro de 2014. Atuo nesta escola como professor de Arte. Nesta ocasião fui chamado a substituir a professora de matemática em razão de um imprevisto. Embora os alunos tenham demonstrado resistência no início – esperavam não ter aula naquele dia – ao final estavam bastante satisfeitos com a atividade. A atividade se deu dentro do horário das aulas.

Com os alunos da turma 801 – 8º ano – fiz uma breve apresentação da proposta da aula-oficina. Distribui um texto para ser lido em casa enriquecido com mais informações. Explanei sobre o conteúdo dos triângulos e relacionei com a arte de Décio Vieira e o Concretismo. Os alunos, então, realizaram os estudos preparatórios para a execução do Madonnaro. Em seguida, fomos para o pátio a executar a obra sobre o chão. Com o auxílio de uma vassoura como régua dividi os espaços sendo um retângulo de cerca de 70 x 60 cm para cada aluno. Organizei os espaços em duas fileiras de forma que os alunos ficaram de frente um para o outro. Os triângulos foram traçados à mão livre com giz branco. Apenas um aluno utilizou a régua. Finalizada a composição linear os alunos fizeram uso do giz colorido (verde, azul, amarelo, branco e laranja) para acrescentar cor à pintura. Durante a execução dos madonnari fui aos alunos perguntando sobre a identificação de alguns triângulos. Terminada a pintura nos dirigimos para a sala de aula. Deixei aberto para comentários. Um aluno disse: “Não deixamos de estudar geometria.” Outro exclamou: “Faltou um terreno mais plano.”

Com o 9º ano – turma 901 – a rejeição foi mais efetiva. A aula foi pouco empolgante. Talvez pelo fato da aula-oficina acontecer nos dois últimos tempos, quando imaginavam poder ir para casa, tenha contribuído para tal rejeição inicial. Demonstraram pouco interesse em participar da aula-oficina. Principalmente durante a parte teórica. Aqui também distribui o texto. Comentei sobre o motivo de estar ali e ainda sobre o conteúdo da aula-oficina. Contextualizei conteúdo dos triângulos fazendo uma ligação com o artista Décio Vieira e o Concretismo. Resolvi fazer diferente do método adotado com a 801 e sugeri um trabalho em conjunto. A turma era pequena. Naquela aula estavam presentes apenas seis alunos_ no total a turma possui oito alunos. Então, eles se reuniram e realizaram um estudo preparatório. O interessante foi que ‘construíram’ a obra a partir do acréscimo formal (figuras triangulares). Não havendo, inicialmente, uma demarcação geral (configuração). Na sequência fomos para o pátio da escola. Ali, novamente fazendo uso da vassoura, tracei um único retângulo de mais ou menos 1,20 x 70 cm. Um aluno realizou a composição linear e os outros executaram a etapa pictórica. Cabe destacar que acrescentaram mais triângulos quando da etapa linear alterando o estudo/referência. Durante a execução questionei sobre a classificação dos triângulos presentes na obra. Uns optaram por não responder; uma aluna errou a resposta; e apenas um aluno classificou corretamente o triângulo escolhido. Finalizado o Madonnaro voltamos para a sala. Deixei aberto para comentários. Ninguém quis falar. Novamente comentei e associei a criação do Grupo Frente ao Salão Preto e Branco, estudado como conteúdo do 4º bimestre em Arte, sendo ambos organizados no ano de 1954.

Espera-se que os participantes tenham percebido a possibilidade de explorar os aspectos formais do triângulo como elemento de expressão artística. Não somente isso, mas também que atentem ao conteúdo histórico presente na proposta da aula-oficina. Podendo, dessa maneira, apreender conhecimento cultural por meio da obra do pintor Décio Vieira e sua relação com o Concretismo. Acredita-se que isso possa contribuir para a reafirmação de identidade. Assim também, espera-se que o contato com outra realidade cultural como aquela do Madonnaro possa ter proporcionado experiências de trocas culturais. A opção interdisciplinar que caracterizou a aula-oficina se firmou na definição de educação para o futuro proposta por Morin, baseada no paradoxo entre as especializações e o conhecimento multidisciplinar, transversal, etc.[1] A especialização só faz sentido quando é parte de um todo. Do contrário, institui a cruel solidão. Com tudo isso, se quis propor ao participante a conscientização de sua autonomia.[2] Oferecendo-lhe condições que pudessem contribuir no embate contra o Imprinting cultural, termo cunhado por Konrad Lorenz, que é uma espécie de “(...) marca matricial que inscreve o conformismo a fundo, e a normalização que elimina o que poderia contestá-lo. (…) desde o nascimento, primeiro com o selo da cultura familiar, da escolar em seguida, depois prossegue na universidade ou na vida profissional.[3] Somente então a inevitável globalização não terá aquele aspecto reducionista sobre o indivíduo.



[1]MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad. Catarina Eleonora F. Da Silva e Jeanne Sawaya; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. 2ª Ed. S. Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2000, p. 36.
[2] - Este um conceito muito explorado por Paulo Freire para combater todas as práticas de desumanização em FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia_ Saberes necessários à prática educativa.  São Paulo: Paz e Terra, 1996. Coleção Leitura. 25ª Ed. 
[3] - MORIN, 2000, p. 28