quarta-feira, 31 de maio de 2017

O MADONNARO PARA SE PENSAR A VIOLÊNCIA NA ESCOLA

O texto que segue foi parte de uma Carta de Intenção voltada à candidatura para cursar a Especialização "Impactos da violência na escola", oferecida pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca/FIOCRUZ/Universidade Aberta do Brasil. O curso teve início em outubro de 2016 e previsão de término em novembro de 2017. Eis o texto:
A motivação em cursar esta pós-graduação voltada ao tema da violência na escola reside no desafio de desdobrar nosso objeto de pesquisa em mais uma possibilidade de ação pedagógica. A escola é o espaço em cheque na sociedade contemporânea. É onde deveria nascer a oportunidade e, no entanto, consideradas as exceções, naquele espaço morrem as esperanças. Porém, há que se considerar que a escola é apenas um dos atores no processo da educação. Sozinha ela não resolverá o problema. Esta visão sobre o papel da escola é orientada a partir de sua responsabilidade social e cultural. A escola, orientada por um sistema educacional questionável, pouco oferece para a autonomia do aluno. Este nada compreende sobre direitos e deveres. O aluno apenas cumpre uma obrigação imposta pela família (quando existe), pelo poder judiciário e/ou pelas estatísticas.
Enquanto professor, vejo com tristeza a falta de perspectiva de meus alunos. Mais que isso: vejo com temor a impossibilidade de intercomunicação. Em sala de aula observo que os alunos não sabem dialogar. Tudo é ‘resolvido’ na base da aspereza e da agressão verbal. É a violência se manifestando na escola via um discurso de incompreensões. O que me faz lembrar um autor que li quando para outra especialização, chamado Edgard Morin, o qual fala de Simbiosofia, ou seja, a capacidade de viver junto. Inclusive, em um de seus livros, o autor dedica um capítulo ao assunto “Ensinar a compreensão” como um d’Os sete saberes necessários à educação do futuro. Penso que a proposta de um curso que visa a estudar a violência na escola, em consonância com a disciplina que leciono (Arte), pode contribuir para a formação individual destes alunos e ainda para o convívio coletivo. Suponho que os procedimentos para a criação artística possam contribuir para a compreensão do processo da convivência em grupo.
A intenção em explorar o Madonnaro como instrumento pedagógico, no caso de um conteúdo transversal como a Violência, é possibilitar ao aluno entender o processo de formação do protagonismo como uma construção individual para o bem coletivo. A arte provoca reflexão. Não penso o ensino artístico como algo messiânico, mas entendo que o ensino da arte possibilita o conhecimento, a reflexão e a possibilidade da experiência prática para a formação do indivíduo. A Arte abre oportunidade para o novo; caberá ao aluno o papel de agente dessa mudança. Dessa maneira acredito no Madonnaro como instrumento para a reflexão da “Violência e suas manifestações na escola”.

REFERÊNCIA:
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad. Catarina Eleonora F. Da Silva e Jeanne Sawaya; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. 2ª Ed. S. Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2000. 

segunda-feira, 1 de maio de 2017

RELEMBRANDO 2015


Em 2015 tivemos a oportunidade de mostrar algumas obras executadas com giz pastel e carvão sobre tela no CEFEC, em Itacuruçá (RJ). O link a seguir traz uma matéria sobre aquela exposição: http://canalzoiodaarte.blogspot.com.br/2015/10/experimentacoes-em-itacuruca.html.

quinta-feira, 30 de março de 2017

QUADRÍCULA: método de transporte de imagens por 'quadradinhos'

Pintor florentino do século XV. Talvez o desenho mais antigo conhecido, onde poderá ter sido utilizado o véu (quadrícula). Windsor, Royal Library.

Quadrícula: método de transporte de imagens por ‘quadradinhos’
Marcelo Amaral Coelho

O propósito deste texto é apresentar um recurso artístico que possa auxiliar na ampliação/redução de desenhos. Recurso este denominado “Quadrícula”. Algo que facilite a experiência de deslizar o lápis sobre o papel para dar forma ao desenho. O dicionário online Michaelis/uol define este recurso linear como 'quadradinhos'. Nesta perspectiva, basta traçar linhas horizontais e verticais, segundo medidas pré-estabelecidas, para que se forme a malha quadriculada destinada a auxiliar na reprodução do desenho (COELHO, 2014).
A quadrícula ou malha quadriculada pode facilitar a produção de desenhos e desenvolver a capacidade de organização espacial, percepção e concentração. O recurso permite uma proximidade com operações matemáticas. Tanto no traçado das linhas horizontais como naquelas verticais o cálculo é uma operação funcional. Por meio da quadrícula é possível reduzir ou ampliar qualquer desenho. Potencialidades que podem contribuir, em especial, à execução de um Madonnaro pelo iniciante. O recurso do quadriculado para auxiliar o artista é uma prática muito antiga.
Tal recurso é muito antigo. Tofani (1991, p. 249 – Trad. nossa) vai dizer: “o método para a ampliação era aquele velhíssimo, já em uso no antigo Egito, da quadrettatura: uma rede regular de linhas verticais e horizontais que vinham traçadas sobre o desenho preparatório, servindo a localizar vários pontos de referência sobre os quais, dilatando a dita rede, se podia reproduzir a imagem em tamanho maior”. Mais a frente (p. 20), o mesmo autor vai dizer nos anos 1700 era muito comum o uso da quadrettatura ou quadrícula.
Comentando o processo de pintura mural do antigo Egito, MORA e PHILIPPOT (2001, p. 91) reforçam uso da quadrícula em tempos antigos. Dizem eles que aqueles homens já recorriam à “(...) quadrícula que determinava as proporções das figuras e dos hieróglifos.
Porém, nem todos os artistas fazem uso da quadrícula. Para alguns estudiosos a quadrícula é útil só para reportar imagens pequenas em grandes dimensões. Existem artistas que não a usam porque trabalham interpretando o modelo inicial e, portanto, não necessitam de uma restituição ‘fidelíssima’ da imagem a ser representada.
A execução dos trabalhos, segundo o recurso da quadrícula, pode se dar pelas seguintes etapas: 1) medir a área total do desenho; 2) O próximo passo é multiplicar essa medida pelo tamanho a ser ampliado ou dividir caso a operação seja a redução; 3) Em seguida, traçar as linhas internas obedecendo ao mesmo processo de multiplicação/divisão utilizado anteriormente. Obtendo assim, a malha quadriculada necessária tanto para ampliação quanto para a redução. O lápis deve ser usado de maneira bem suave para que não fiquem ‘marcas’; 4) Nesta etapa é recomendável observar o desenho-referência, este já sob a quadrícula, e iniciar o processo de transposição da imagem. Devendo estar atento à combinação entre letras e números, dispostos externamente ao desenho-referência, que servirão como orientação. Dessa maneira, atentando à forma contida  no quadrante A1, depois naquele A2 e assim sucessivamente será possível realizar a ampliação utilizando o recurso; 5) Feito a transposição total do desenho será necessário apagar aquelas linhas que não fazem parte da obra. Se necessário, é possível ‘reavivar’ o desenho com linhas mais definidas.

REFERÊNCIAS:
BOTTICELLI, Guido. Breve storia della pittura murale. In: __________. Metodologia di restauro delle pitture murali. Sandra e Silvia Botticelli (orgs). Centro Di. Pp. 11-22.
COELHO, Marcelo A. Oficina Identificando traços de brasilidade na obra de Vicente do Rego Monteiro: ampliando possibilidades para a prática Madonnaro. Projeto Quem somos nós: a identidade do povo brasileiro e sua brasileiridade. Escola Municipal Gilson Silva, Seropédica (RJ). 2014.
MAIA, Pedro. O caráter demonstrativo das experiências de Brunelleschi e o seu impacto na concepção e utilização de dispositivos de captura entre os séculos XV e XVII. 2011. Disponível em: http://www.i2ads.org/blog/article/o-caracter-demonstrativo-das-experiencias-de-brunelleschi-e-o-seu-impacto-na-concepcao-e-utilizacao-de-dispositivos-de-captura-entre-os-seculos-xv-e-xvii-5/. Acesso em: 30 de março de 2017.
MICHAELIS – Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/>. Acesso em: 12 de março de 2017.
MORA, Paolo e Laura e PHILIPPOT, Paul. Le grandi tappe storiche della tecnica. In: ________________. La conservazione delle pitture murali. Trad.: Bresciani S.r.l. 2ª ed. Bologna: Editrice Compositori , 2001. pp. 85-167.
TOFANI, Annamaria Petrioli. Pentimenti, metodi di trasferimento, manomissioni. In: Il disegno. Forme, tecniche, significati. Gianni Carlo Sciolla (org.). Cinisello Balsamo (MI): Silvana Editoriale, 1991. pp.