segunda-feira, 31 de agosto de 2015

MADONNARO: Gênero, técnica e linguagem pictórica

MADONNARO: Gênero, técnica e linguagem pictórica

Marcelo Amaral Coelho1& Fabio de Macedo2
1. Discente do Curso de Licenciatura em Belas Artes, ICHS/UFRRJ; 2. Orientador de Monografia e Professor Associado do Curso de Licenciatura de Belas Artes, ICHS/UFRRJ

Palavras-chave: Efemeridade, Madonnaro, Pintura.

Introdução

O presente trabalho surgiu a partir do contato com o Madonnaro agregado à vivência acadêmica em Belas Artes. Esse contato se deu no ano de 2013, quando selecionados para o Programa Ciências sem Fronteiras (CAPES), tivemos a oportunidade de participar de um curso de Madonnaro, em Verona (Itália). Em 2014, por conta de um projeto PIBID/CAPES elaborado para ser desenvolvido com alunos do EJA/Fase IX, em Seropédica (RJ), houve a necessidade de aprofundar o conhecimento sobre o universo Madonnaro. Aprofundamento este que resultou no Madonnaro como tema para a Monografia de conclusão de curso. A proposta então era uma pesquisa direcionada para a possibilidade de aplicação da técnica da pintura sobre o solo como instrumento de ensino de arte. Porém, à medida que acessamos novos conhecimentos, a pesquisa foi ganhando um viés teórico e histórico no sentido de investigar o Madonnaro enquanto técnica, gênero ou linguagem. Para isso concorreu a constatação da inexistência de material referencial quanto ao tema no contexto brasileiro. Foi então que nos propomos a investigar a origem do culto mariano e sua iconografia. O que nos levou a pensar a natureza e o entendimento da imagem no contexto cristão. Feito isso, decidimos por fazer um levantamento da prática Madonnaro desde o início, no século XVI. Para argumentar sobre sua consolidação como arte atentamos para importantes elementos que gravitam em torno dessa prática artística. Uma vez reconhecida como arte, nos detivemos sobre os procedimentos técnicos que envolvem a concepção de um Madonnaro.

Metodologia

A escassez de referências sobre o tema aumentou a reunião de esforços para o desenvolvimento do trabalho. Recorremos às obras especializadas, em língua italiana, que nos demandou um árduo trabalho de tradução, proporcionado pela familiarização com o referido idioma. Esta tarefa contou com contribuições de nacionais daquele país, amarrados pelo afã de colaborar pura e simplesmente pela natureza cooperativa de amizades construídas no contexto em que disfrutamos do intercambio acima mencionado. O texto capital para o desenvolvimento da pesquisa foi o livro I Madonnari – annunciatori di anziane storie, de Felice Nalin, considerado marco fundador das pesquisas referentes ao tema. A partir de entrevistas com vecchi madonnari em ação, Nalin escreveu a história da prática pictórica. Para abordar o contexto paleocristão recorremos ao historiador italiano Ennio Francia, buscando abrigo para repassar o panorama histórico e estilístico do período. Outra referência em que buscamos apoio foi Umberto Utro em publicação de Fabrizio Bisconti. Nele encontramos as informações necessárias para um estudo iconográfico da Madonna. Quando resolvemos investigar a Iconoclastia, selecionamos Ernst Kitzinger, cujo estudo privilegia o contato com a obra como documento, cujas ideias não dispensa o contato com outras áreas do conhecimento, mas se detém na leitura do monumento. As informações sobre os festivais de Madonnaro foram colhidas a partir de textos reunidos na obra de Gabriela Annaloro et. al. Essa literatura especializada foi tratada dentro das ideias que circunscrevem a teoria e história da arte na atualidade, apoiada no pensamento de autores como: H.W. Janson, E. Gombrich, Jacqueline Lichtenstein, Ralph Mayer e outros. Bem como Edson Motta, cujas formulações sobre técnicas sobre procedimentos pictóricos foram de grande importância ao estudo em questão. A pesquisa, portanto é de caráter bibliográfico, sendo estudo como corte qualitativo.

Resultados e Discussão

A partir das análises perpetradas, sustentamos a relevância do Madonnaro, pois o mesmo se reafirma como “gênero”, “técnica” e “linguagem” pictórica, senão vejamos: O Madonnaro pode ser considerado um gênero de pintura em razão de sua marca característica, qual seja: o tema. É inegável que a referência mariana na catacumba de Priscilla tenha sido capital para a existência do Madonnaro – não à toa, a prática tem este nome. A prática propõe um conjunto de procedimentos que lhe proporcionam singularidade pictórica. Desde o início impregnado do esquematismo bizantino, passando pela influência do Renascimento até o contato com o ensino institucionalizado das academias, a pintura sobre o pavimento conservou alguns procedimentos e alterou outros.  O uso do desenho, a aplicação da cor, a noção de proporção, o trato de claro-escuro e demais recursos técnicos, foram incorporados à formação de seus artistas via instituições formais de arte. O Madonnaro enquanto linguagem, dotado de efemeridade e possuindo um conjunto de procedimentos, comunica uma ideologia. Antes especificamente religiosa; atualmente, contempla a multiplicidade de discursos. Tendo conhecimento de suas particularidades e recursos técnicos, é possível explorar as potencialidades da gramática visual madonnara. Assim como a fala, o Madonnaro é um fato social, externo ao indivíduo. Nasce e se perpetua nas relações dinâmicas e interativas com o outro. É arte pública edificada numa tradição histórica que ao mesmo tempo se assoma e dialoga com os paradigmas da arte contemporânea, devido ao seu caráter público e efêmero. Não se desfaz da norma culta da técnica, mas por conta das constantes atualizações, acaba por absorver elementos inovadores.

 

Conclusão


Concluímos que o Madonnaro é gênero; é técnica; é linguagem pictórica. Tal conclusão confere à prática uma variedade de potencialidades a serem exploradas. Desde sua constituição de natureza religiosa e artística, passando pelo aspecto turístico, cultural, bem como sua potencialidade pedagógica. Este último vetor destaca a importante função humanística e social do Madonnaro, já que a arte tem como compromisso fundamental a mudança e a transformação da sociedade, para o que a educação se constitui em ferramenta indispensável. Dessa maneira, o Madonnaro se constitui em ferramenta pedagógica a mais dentro do leque de possibilidades artísticas. Seus procedimentos compreendidos pelo manuseio técnico que vão desde os materiais mais alternativos, como giz, carvão e tijolo aos mais sofisticados pastéis, todos não nocivos à saúde de quem os manipula, se apresentam como apropriados a todas as faixas etárias. Com isso, o Madonnaro se demonstra como ferramenta compatível a todos os níveis da educação e dentro do contexto educacional, as possibilidades são amplas e inúmeras. A reflexão sobre a utilização do suporte aponta para a conscientização quanto ao uso e preservação do patrimônio cultural. Sua natureza religiosa, o aproxima da confecção dos tapetes de Corpus Christ, comuns em várias cidades brasileiras, possibilitando, dessa forma, discussões em torno da interculturalidade. Assim, acreditamos que este trabalho contribui para a difusão de uma atividade em vias de reconhecimento acadêmico em terras brasileiras.

Referências Bibliográficas


ANNALORO, Gabriella et al. Curtatone: I segni della Storia. Mantova (Itália): Editoriale Sometti, 2014.
BISCONTI, Fabrizio. Temi di Iconografia Paleocristiana. Città del Vaticano: Roma, 2000.
FRANCIA, Ennio. Storia dell'Arte Paleocristiana. Milano: Aldo Martello Editore, 1969.
JANSON, H. W. O Renascimento/Introdução; O Proto-Renascimento em Itália; O Renascimento Pleno na Itália; O Maneirismo e outras Tendências. In: ___________.  História da Arte. 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
KITZINGER, Ernst. Il culto delle immagini: l’arte bizantina dal cristianesimo delle origini all’iconoclastia. Lezioni 4. Trad. de Roberto Garroni. Scandicci (Itália): La Nuova Italia Editrice, 1992.
LICHTENSTEIN, Jacqueline. A Pintura – Vol. 2: A teologia da imagem e o estatuto da pintura. São Paulo: Editora 34, 2004.
MAYER, Ralph. Pastel. In: ___________.  Manual do Artista de Técnicas e Materiais. Trad. Christine Nazareth. 2ª Ed. S. Paulo: Martins Fontes, 1999.
MOTTA, Edson e SALGADO, Maria Luiza Guimarães. Pastel. In: ______ e _______. Iniciação à Pintura. Rio: Nova Fronteira, 1976.
NALIN, Felice. I Madonnari. Annunciatori di anziane storie. Verona (Itália): Edizioni MG, 1982.

(Resumo expandido apresentado à III Reunião Anual de Iniciação Científica (RAIC) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em 31 de agosto de 2015).

sábado, 29 de agosto de 2015

PLANO DE CURSO APRESENTADO AO FINAL DA GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA EM BELAS ARTES NA UFRRJ

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
DECANATO DE ENSINO DE GRADUAÇÃO
DEPARTAMENTO DE ASSUNTOS ACADÊMICOS E REGISTRO GERAL
DIVISÃO DE REGISTROS ACADÊMICOS
PROGRAMA ANALÍTICO

DISCIPLINA

MADONNARO
CRÉDITOS: 2.0

ORIGEM
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE ARTES

I. OBJETIVO
Capacitar o aluno para compreender o fenômeno artístico do Madonnaro em seu contexto histórico, tendo como base a análise crítica de textos relacionados com o tema.
Refletir sobre os conceitos fundamentais das Belas Artes e sua função social, a partir dos procedimentos e discurso contidos no Madonnaro.

II. EMENTA
Conceituar o Madonnaro e sua organização.
Estudar o Madonnaro como instrumentação representativa, caracterizando-o como gênero, técnica e/ou linguagem.

III. PROGRAMA
CONTEÚDO
1.      NO PRINCÍPIO...:
1.1. O que é um Madonnaro?
1.2. A matriz iconográfica.
1.3. A formação iconográfica do tema mariano.
2.      A IMAGEM NO PERÍODO ICONOCLASTA:
2.1. Antes da Controvérsia iconoclasta.
2.2. Os primeiros cultos à Maria.
2.3. O século VI e a preparação para a Iconoclastia.
3.   O MADONNARO – O ARTISTA E SUA PRÁTICA:
3.1. O início Madonero: comércio e religião.
3.2. O artista madonnaro: um divulgador da fé cristã.
3.3. A geração Pós-Guerra: uma nova estrada para o Madonnaro.
4.   A CONSOLIDAÇÃO DO MADONNARO:
      4.1. A cidade de Curtatone.    
      4.2. O Santuário da Beata Virgem Maria das Graças.
      4.3. A Feira de Curtatone.
      4.4. O Encontro Nacional dos Madonnari: uma galeria a céu aberto.
5.   A PRÁTICA MADONNARO:
      5.1. Veneza.
      5.2. O uso das referências.
      5.3. O suporte.
      5.4. A materialidade.
      5.5. Os procedimentos técnicos.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA
ANNALORO, Gabriella et al. Curtatone: I segni della Storia. Mantova (Itália): Editoriale Sometti, 2014.
FRANCIA, Ennio. Storia dell'Arte Paleocristiana. Milano: Aldo Martello Editore, 1969.
KITZINGER, Ernst. Il culto delle immagini prima dell’Iconoclastia. In: _________.  Il culto delle immagini: l’arte bizantina dal cristianesimo delle origini all’iconoclastia. Lezioni 4. Trad. de Roberto Garroni. Scandicci (Itália): La Nuova Italia Editrice, 1992.
NALIN, Felice. I Madonnari. Annunciatori di anziane storie. Verona (Itália): Edizioni MG, 1982.
UTRO, Umberto. Maria. In: BISCONTI, Fabrizio. Temi di Iconografia Paleocristiana. Città del Vaticano: Roma, 2000.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BETTETINI, Maria. Ombre di ombre. In: _________. Contro le immagini: le radici dell’iconoclastia. Bari (Itália): Gius. Laterza & Figli, 2006.
CENNINI, Cennino. Il libro dell’arte. Editado por Franco Brunello. 3ª Ed. Vicenza (Itália): Neri Pozza Editore, 1992.
GOMBRICH, Ernst H. Norma e Forma. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
JANSON, H. W.História da Arte. 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
LACOSTE, Jean. O problema da Estética. In: ___________. A filosofia da arte; trad. de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.
MAYER, Ralph. Pastel. In: ___________.  Manual do Artista de Técnicas e Materiais. Trad. Christine Nazareth. 2ª Ed. S. Paulo: Martins Fontes, 1999.
MOTTA, Edson e SALGADO, Maria Luiza Guimarães. Pastel. In: ______ e _______. Iniciação à Pintura. Rio: Nova Fronteira, 1976.
NAALIN, Felice. L'arte dei madonnari. Le tecniche. Del segno e del colore. Firenze (Itália), Giunti Demetra, 2000.
RODINÒ, Simonetta Prosperi Valenti. Forme, Funcioni, Tipologie. In: Il disegno. Forme, tecniche, significati. SCIOLLA, Gianni Carlo (org.). Cinisello Balsamo (MI): Silvana Editoriale, 1991.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

TESTEMUNHO HISTÓRICO

Testemunho histórico da pintura de estrada. Vídeo curto; apenas 29 segundos. Imagens da produção de arte sobre o pavimento na década de 1920, em Londres, na Inglaterra. Link: https://www.facebook.com/LadyScreever/videos/vb.1460524280925671/1475863116058454/?type=2&theater.